COEQTO e representantes do governo federal e estadual visitam comunidade quilombola Rio Preto

Comunidade busca a garantia de direitos do território após sofrer ataques de incêndios criminosos e diversas violações de direitos em 2023 

Por Geíne Medrado

O Quilombo Rio Preto, em Lagoa do Tocantins-TO, recebeu visita da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), do Ministério da Igualdade Racial (MIR) e da Secretaria de Povos Originários e Comunidades Tradicionais (Sepot) e de outros órgãos para escuta de demandas e reivindicações da comunidade. A visita aconteceu na última quarta-feira, 27, um dia após o lançamento do Programa Aquilomba Tocantins. 

Durante a reunião, a comunidade relatou os episódios de violência e violações aos direitos humanos vivenciados pelo quilombo e intensificados em setembro de 2023, quando o território sofreu ataques com incêndios criminosos em residências, ameaças e intimidações, após decisão judicial de desapropriação ser revogada em favor da comunidade. Na época, a Justiça revogou a decisão anterior que dava a reintegração em favor de fazendeiros e concedeu a reintegração e manutenção de posse para a comunidade Rio Preto, além de determinar o fim da prática de esbulho na área. 

A comunidade foi reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares em 25 de outubro de 2023. Conforme os relatos, mesmo após o reconhecimento a Comunidade Quilombola Rio Preto continuou em situação de medo, insegurança e falta de assistência às políticas públicas de educação, segurança alimentar, geração de renda, entre outras. 

A coordenadora executiva da COEQTO, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, que acompanha a situação do quilombo, esteve na reunião e afirmou que a presença do Ministério da Igualdade Racial foi importante e positiva. 

“No estado do Tocantins, das mais de 40 comunidades, a situação de Rio Preto foi um dos cenários mais difíceis da nossa realidade. Estarmos aqui hoje, nesta imersão na comunidade, após o lançamento do Programa Aquilomba Tocantins é um marco histórico. É muito importante a presença do Secretário Ronaldo Santos aqui, pois irá levar a realidade dos quilombos do Tocantins para a ministra Anielle Franco”, destacou. 

O Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT) no Ministério da Igualdade Racial (MIR), Ronaldo Santos, informou que irá articular com outros Ministérios para que as demandas da comunidade sejam atendidas com urgência. 

“O Ministério da Igualdade Racial tem esse caráter transversal e lida no exercício do seu trabalho com outros Ministérios, então vamos encaminhar os pedidos da comunidade para diferentes Ministérios, articular e monitorar para que seja cumprido cada um desses pedidos. Temos o compromisso de atender no período mais curto possível, cada necessidade que a comunidade nos apresenta”, disse Ronaldo Santos. 

Também participaram da atividade a Defensoria Pública do Estado Tocantins (DPE-TO), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), poder público municipal de Lagoa do Tocantins-TO e equipe de antropólogos da Universidade Federal do Tocantins (UFT).  

Na oportunidade, a comunidade entregou ao Ministério da Igualdade Racial e demais instituições presentes documento com as principais demandas do território. 

Pedro Alexandre Conceição Aires Gonçalves, subdefensor público-geral do Estado do Tocantins, reforçou o papel da Defensoria Pública na defesa dos Direitos das Comunidades Quilombolas do Tocantins. “A Defensoria Pública do Estado do Tocantins já esteve em todas as Comunidades do Estado. A gente acompanha e sabe a violência que essas comunidades sofrem. Ainda temos muito que superar. As Comunidades Quilombolas não podem ser vistas como um atraso, mas sim como riqueza. A identidade nacional do Brasil passa pela valorização dos povos originários e das comunidades tradicionais. Contem com a Defensoria como parceira ”, ressaltou.  

Durante a atividade, as autoridades também visitaram o cemitério “Campo Santo do Bom Jardim”, da Comunidade Rio Preto. O local possui estruturas com mais de 100 anos de existência e foi reconhecido como sítio arqueológico histórico, em novembro de 2023, pelo Iphan.

Foto: Geíne Medrado/COEQTO

Em reunião, COEQTO discute estratégias de proteção ao Quilombo Rio Preto

Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) e Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) participaram da reunião para pensar na proteção das famílias ameaçadas

Por Geíne Medrado

Após emitir nota de repúdio e denunciar os contínuos ataques de violência e violações aos Direitos Humanos praticados contra a comunidade Quilombola Rio Preto, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) se reuniu com a Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) e Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) para discutir estratégias de contenção de violência contra a comunidade Quilombola Rio Preto. A reunião aconteceu nesta terça-feira,07, na sede da DPU, em Palmas-TO.

O quilombo Rio Preto, localizado no município de Lagoa do Tocantins-TO, vive dias de terror com incêndios criminosos em residências e nos arredores das moradias, tratoramento de estradas e plantações, disparos com armas de fogo, intimidações verbais e ameaças de violências físicas. A situação de insegurança foi intensificada a partir do dia 08 de setembro de 2023 quando a decisão judicial pela expropriação foi revogada em favor dos quilombolas. Desde então a comunidade encontra-se com seu direito de ir e vir limitado.

No último dia 01 de novembro a comunidade identificou placas de proibição de circulação espalhadas pelo território, no Lote 173 que também se encontra arrendado para manejo de gado e uma roça de mandioca foi destruída por ação do gado que circula pelo território.

“A minha comunidade está há mais de 5 meses sem conseguir dormir em suas casas. Incendiaram 3 casas. Os autores estão indo lá e continuam nos intimidando”, relatou Rita Lopes, presidente da Associação da Comunidade Quilombola Rio Preto sobre a situação de medo, insegurança e violência vivida pelas famílias.

Durante reunião com os três órgãos, a COEQTO reforçou que a situação de Rio de Preto já é de conhecimento das autoridades competentes, porém a comunidade continua sofrendo ataques. A Coordenação pediu a proteção às lideranças quilombolas que são vítimas de ameaças por estarem à frente da luta pelos direitos e regularização dos Territórios. 

Representantes dos órgãos falaram sobre a importância de manter as famílias em segurança.

Na imagem, da esquerda para a direita, André Brandão (Assessor jurídico DPU), Igor Barbosa (defensor público-chefe da DPU no Tocantins) e Pedro Alexandre (Sub-defensor Geral na DPE-TO) – Foto: Geíne Medrado (Ascom COEQTO)

“A Defensoria Pública da União tem uma preocupação muito grande com a situação das comunidades quilombolas, em especial, da Comunidade Rio Preto. Estamos colocando o órgão à disposição das lideranças para que toda e qualquer medida judicial e extrajudicial seja tomada para que as comunidades sejam protegidas e para que os Direitos sejam devidamente reservados.”, disse Igor Barbosa, defensor público-chefe da DPU no Tocantins.

Como encaminhamento da reunião, ficou acordado que será agendada, posteriormente, uma audiência pública na comunidade Quilombola Rio Preto, com presença da DPU, DPE e demais autoridades do Estado, com o objetivo de ouvir as lideranças de Rio Preto e traçar estratégias de atuação conjunta para garantir a segurança da comunidade.

Participantes

Participaram da reunião Maria Aparecida Ribeiro de Sousa (coordenadora executiva da COEQTO); Brenda Allem (da equipe de assessoria jurídica da COEQTO); Rita Lopes (presidente da Associação da Comunidade Quilombola Rio Preto); Paulo Rogério Gonçalves (representante da ONG Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins-APA-TO); Igor Barbosa (defensor público-chefe da DPU no Tocantins); André Brandão (Assessor jurídico DPU); Pedro Alexandre (Sub-defensor Geral na DPE-TO); Ana Cláudia Matos (Diretora do Departamento de Proteção aos Quilombolas na Sepot); Hermógenes Alves (assessor jurídico da Sepot), Jarlene Santana (Assessora técnica no Departamento de Proteção aos Quilombolas-Sepot).