COEQTO cobra a regularização dos territórios quilombolas em oficina realizada pelo Incra

Com objetivo de planejar ações para os próximos anos, o Incra Tocantins realizou oficina de planejamento participativo e ouviu demandas dos movimentos sociais 

Por Geíne Medrado

Nesta quinta-feira (11), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) participou de oficina de planejamento participativo realizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária do Tocantins (Incra) – Superintendência Regional de Tocantins. A oficina foi realizada com o intuito de levantar as demandas prioritárias dos movimentos sociais para planejamento de ações da Superintendência na gestão 2024-2026.

Na abertura do evento, a Coordenadora da COEQTO Maryellen Crisóstomo relatou a realidade das comunidades quilombolas do Tocantins em relação a dificuldade de acesso às políticas públicas, bem como o aumento da violência contra as comunidades, e cobrou o avanço na regularização dos territórios.  

“No Tocantins temos o desafio de avançar na política de regularização dos territórios. Para se  ter um exemplo, há pelo menos 6 comunidades quilombolas que estão há 10 anos aguardando concluir um processo de RTID. Sofremos todos os dias diversos tipos de  violência e as políticas públicas não chegam ao território. É preciso efetivar o acesso aos nossos territórios e garantir as nossas seguranças”, reforçou Maryellen. 

O superintendente regional do Incra, Edmundo Rodrigues Costa,  falou sobre a importância da escuta aos movimentos sociais para definir prioridades na atual gestão do órgão e destacou a retomada da mesa quilombola no Incra Tocantins, espaço de diálogo com as comunidades quilombolas do estado. 

“A nossa proposta enquanto gestão do Incra do Tocantins é de ter o máximo de diálogo possível com todos os movimentos sociais e o movimento sindical do Estado e assim definir as demandas que são prioridades. Estamos retomando aqui no estado a mesa quilombola, que vai ser a mesa específica para tratar sobre as demandas das comunidades quilombolas do Tocantins”, destacou Edmundo. 

Como encaminhamento geral da oficina, o Incra irá formar grupo de trabalho com representantes de cada movimento social para acompanhamento das demandas apresentadas. 

Em relação aos processos de regularização territorial das comunidades quilombolas do Tocantins, a COEQTO solicitou ao Incra o levantamento situacional dos processos de todos os territórios quilombolas do estado, bem como um balanço com prazos e possíveis avanços em cada processo. 

Participantes 
Além da COEQTO, participaram da oficina o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Tocantins (FETAET), Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO), Superintendência do Patrimônio da União (SPU/TO) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Audiência Pública discute conflito agrário no Território Quilombola Claro, Prata e Ouro Fino 

Quilombo sofre com invasões e crimes ambientais e cobra do INCRA a finalização de RTID da comunidade, iniciado há 10 anos

Por Geíne Medrado

Nesta quinta-feira (04), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) acompanhou audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Povoado Campo Alegre, no município de Paranã – TO, para discutir a situação de conflito agrário e ambiental no território quilombola Claro, Prata e Ouro Fino.

Conforme levantado na audiência, a comunidade denuncia a tentativa de apropriação das terras do quilombo por parte de grileiros e latifundiários, bem como a prática de crimes ambientais e exploração do turismo por terceiros.  

“Nota-se que a questão da exploração do turismo na região agrava ainda mais o conflito, visto que os empresários que adquiriram propriedades no território, excluem as comunidades da atividade turística. Diante do impasse, é urgente a demarcação do território para que o conflito seja resolvido e que a posse seja garantida à comunidade”, destacou Yonaria Alves Patricio, assessora jurídica da COEQTO.

Diante disso, a comunidade reivindica a conclusão do relatório técnico de identificação e delimitação (RTID) do território, iniciado em 2014, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/TO).

Vale ressaltar que tramita na Procuradoria da República no Estado do Tocantins um inquérito civil que visa garantir a posse integral do território à Comunidade Quilombola Claro, Prata e Ouro Fino. 

Além de lideranças do quilombo, também participaram da audiência representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Superintendência Regional de Tocantins (INCRA/TO),  Núcleo da Defensoria Pública Agrária do Tocantins (Dpagra), poder público municipal de Paranã, Polícia Civil e Polícia Militar.

Encaminhamentos 

Na audiência, a comunidade cobrou dos órgãos responsáveis urgência na conclusão do RTID e que haja celeridade no processo. 

O INCRA, informou que a maior parte das peças de RTID da comunidade já foram concluídas, e que, será possível, em curto prazo de tempo, a finalização e disponibilização do documento à comunidade. 

COEQTO e representantes do governo federal e estadual visitam comunidade quilombola Rio Preto

Comunidade busca a garantia de direitos do território após sofrer ataques de incêndios criminosos e diversas violações de direitos em 2023 

Por Geíne Medrado

O Quilombo Rio Preto, em Lagoa do Tocantins-TO, recebeu visita da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), do Ministério da Igualdade Racial (MIR) e da Secretaria de Povos Originários e Comunidades Tradicionais (Sepot) e de outros órgãos para escuta de demandas e reivindicações da comunidade. A visita aconteceu na última quarta-feira, 27, um dia após o lançamento do Programa Aquilomba Tocantins. 

Durante a reunião, a comunidade relatou os episódios de violência e violações aos direitos humanos vivenciados pelo quilombo e intensificados em setembro de 2023, quando o território sofreu ataques com incêndios criminosos em residências, ameaças e intimidações, após decisão judicial de desapropriação ser revogada em favor da comunidade. Na época, a Justiça revogou a decisão anterior que dava a reintegração em favor de fazendeiros e concedeu a reintegração e manutenção de posse para a comunidade Rio Preto, além de determinar o fim da prática de esbulho na área. 

A comunidade foi reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares em 25 de outubro de 2023. Conforme os relatos, mesmo após o reconhecimento a Comunidade Quilombola Rio Preto continuou em situação de medo, insegurança e falta de assistência às políticas públicas de educação, segurança alimentar, geração de renda, entre outras. 

A coordenadora executiva da COEQTO, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, que acompanha a situação do quilombo, esteve na reunião e afirmou que a presença do Ministério da Igualdade Racial foi importante e positiva. 

“No estado do Tocantins, das mais de 40 comunidades, a situação de Rio Preto foi um dos cenários mais difíceis da nossa realidade. Estarmos aqui hoje, nesta imersão na comunidade, após o lançamento do Programa Aquilomba Tocantins é um marco histórico. É muito importante a presença do Secretário Ronaldo Santos aqui, pois irá levar a realidade dos quilombos do Tocantins para a ministra Anielle Franco”, destacou. 

O Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT) no Ministério da Igualdade Racial (MIR), Ronaldo Santos, informou que irá articular com outros Ministérios para que as demandas da comunidade sejam atendidas com urgência. 

“O Ministério da Igualdade Racial tem esse caráter transversal e lida no exercício do seu trabalho com outros Ministérios, então vamos encaminhar os pedidos da comunidade para diferentes Ministérios, articular e monitorar para que seja cumprido cada um desses pedidos. Temos o compromisso de atender no período mais curto possível, cada necessidade que a comunidade nos apresenta”, disse Ronaldo Santos. 

Também participaram da atividade a Defensoria Pública do Estado Tocantins (DPE-TO), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), poder público municipal de Lagoa do Tocantins-TO e equipe de antropólogos da Universidade Federal do Tocantins (UFT).  

Na oportunidade, a comunidade entregou ao Ministério da Igualdade Racial e demais instituições presentes documento com as principais demandas do território. 

Pedro Alexandre Conceição Aires Gonçalves, subdefensor público-geral do Estado do Tocantins, reforçou o papel da Defensoria Pública na defesa dos Direitos das Comunidades Quilombolas do Tocantins. “A Defensoria Pública do Estado do Tocantins já esteve em todas as Comunidades do Estado. A gente acompanha e sabe a violência que essas comunidades sofrem. Ainda temos muito que superar. As Comunidades Quilombolas não podem ser vistas como um atraso, mas sim como riqueza. A identidade nacional do Brasil passa pela valorização dos povos originários e das comunidades tradicionais. Contem com a Defensoria como parceira ”, ressaltou.  

Durante a atividade, as autoridades também visitaram o cemitério “Campo Santo do Bom Jardim”, da Comunidade Rio Preto. O local possui estruturas com mais de 100 anos de existência e foi reconhecido como sítio arqueológico histórico, em novembro de 2023, pelo Iphan.

Foto: Geíne Medrado/COEQTO

COEQTO e comunidades quilombolas participam de cerimônia de lançamento do Programa Aquilomba Tocantins 

O Aquilomba Tocantins é uma extensão do Programa Aquilomba Brasil do Governo Federal e visa a promoção dos direitos da população quilombola

Por Geíne Medrado

A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) participou do lançamento do Programa Aquilomba Tocantins, que visa desenvolver ações para promover a igualdade de oportunidades e reconhecimento da diversidade cultural entre os quilombolas. O evento aconteceu nesta terça-feira, 26, no auditório do Palácio Araguaia, com participação do Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT) no Ministério da Igualdade Racial (MIR), Ronaldo Santos. 

O programa Aquilomba Tocantins coordenado pela Secretaria de Povos e Comunidades Tradicionais (Sepot) é uma extensão do Programa Aquilomba Brasil do Governo Federal. O objetivo do programa é garantir acesso aos direitos básicos para a população quilombola, como saúde, educação e soberania alimentar e territorial dessas comunidades, para promover a igualdade de direitos e oportunidades para as comunidades quilombolas, bem como reconhecer e valorizar a diversidade cultural. 

Na cerimônia de lançamento do programa, a Coordenadora Executiva da COEQTO e da Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) parabenizou a Sepot pela iniciativa e reforçou a luta histórica das comunidades quilombolas na busca pela efetivação dos direitos garantidos pela Constituição, em especial, a regularização dos territórios. 

“A principal reivindicação das comunidades quilombolas é a regularização dos Territórios, pois sem a titulação dos territórios é um desafio garantir outras políticas básicas como educação e saúde. Temos mais de 50 comunidades e ainda nenhum território regularizado pelo Estado. A assinatura do Aquilomba Tocantins é o caminho para que de fato essas políticas sejam avançadas”, pontuou Maria Aparecida Ribeiro de Sousa. 

Maria Aparecida Ribeiro de Sousa coordenadora executiva da COEQTO/CONAQ. Foto: Manoel Júnior

O Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT) no Ministério da Igualdade Racial (MIR), Ronaldo Santos, reforçou a importância do Programa Aquilomba Tocantins, sendo resultado da luta das comunidades quilombolas do Tocantins para o acesso a políticas públicas específicas. 

“O Estado do Tocantins está assumindo um compromisso. Essa demanda se dá porque a população quilombola está organizada e busca que suas demandas sejam reconhecidas pelo Estado. Esse é um momento feliz devido ao lançamento desse programa. Contem conosco para que esse programa seja um sucesso no Tocantins e precisamos que a experiência no Tocantins seja replicada por outros estados”, finalizou.  

A secretária de Estado dos Povos Originários e Tradicionais, Narubia Werreria, afirmou que o lançamento do programa é um marco histórico na luta por reconhecimento dos direitos da população quilombola. 

“As comunidades quilombolas estavam presentes antes da constituição do estado. Aquilombar é proteger a diversidade cultural e a dignidade, é potencializar a força, a resistência e sabedoria ancestral quilombola”, enfatizou.

A Diretora de Proteção aos Quilombos da Sepot, Ana Cláudia Mumbuca, apresentou os eixos do programa e ressaltou a importância do momento para o reconhecimento dos direitos da população quilombola, sendo o Tocantins o primeiro Estado a aderir ao programa Aquilomba Brasil. 

Eixos Aquilomba Tocantins 

O programa Aquilomba Tocantins é composto por cinco eixos temáticos, cada um com objetivos e mapeamento inicial de instituições finalísticas. Os eixos são: Gestão territorial, ambiental e mudanças climáticas; Infraestrutura e etnodesenvolvimento; Comunicação, ancestralidade e patrimônio cultural; Segurança, organização social e acesso à justiça; e Saúde, educação e segurança alimentar. 

Participantes

O evento reuniu lideranças quilombolas de vários municípios do estado e mais de 10 vereadores e prefeitos quilombolas. Também estiverem presentes representantes de diversas instituições como o Ministério Público Federal, da Defensoria Pública do Estado do Tocantins, Defensoria Pública da União, Superintendência de Patrimônio da União, Ministério Público Estadual, as secretarias de Estado da Mulher; da Cidadania e Justiça; da Pesca e Aquicultura; do Meio Ambiente e Recursos Hídricos; das Cidades, Habitação e Desenvolvimento Urbano; e da Educação; além da Agência Tocantinense de Saneamento, entre outras instituições.  

Secretário Ronaldo Santos e COEQTO prestigiaram o lançamento do Aquilomba Tocantins. Foto: Manoel Júnior

COEQTO se reúne com o Ministério da Igualdade Racial para discutir demandas das comunidades quilombolas do Tocantins 

Em agenda de reuniões no estado do Tocantins, o Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT) no Ministério da Igualdade Racial (MIR), Ronaldo Santos, esteve reunido na manhã desta terça-feira, 26, em Palmas-TO, com a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO). 

O encontro teve como objetivo discutir as demandas do movimento quilombola do Tocantins, bem como as necessidades e desafios das comunidades quilombolas do estado em relação ao acesso às políticas públicas específicas para a população quilombola. 

Durante a reunião, a COEQTO destacou a necessidade de se avançar na regularização dos territórios quilombolas do Tocantins, bem como ações que promovam a proteção dos modos de vida das comunidades. Foi apresentado, ainda, o projeto das Quiolimpíadas que é realizado pela Comunidade quilombola Malhadinha. 

A Coordenadora Executiva da COEQTO, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa destacou a importância do encontro para avançar nas políticas de promoção dos direitos da população quilombola. “Esse encontro marca um importante passo no diálogo entre o Governo Federal e as comunidades quilombolas do Tocantins, evidenciando a importância de uma abordagem inclusiva e participativa na formulação de políticas públicas voltadas para a população quilombola”, disse. 

O Secretário Ronaldo Santos discutiu a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental Quilombola (PNGTAQ), instituída em novembro de 2023, ouviu as demandas do movimento quilombola e ressaltou o compromisso do Governo Federal no reconhecimento dos direitos das comunidades quilombolas do país, visando promover a igualdade racial. 


Também participou da reunião o assessor técnico da Secretaria de Políticas para Quilombolas, Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, Povos de Terreiros e Ciganos (SQPT), Victor Lemes Cruzeiro.

Com mobilização da COEQTO, comunidades quilombolas do Sudeste do Tocantins recebem  atendimento itinerante

A ação promovida pela DPU, DPE-TO, COEQTO e parceiros finaliza nesta sexta-feira (1°) e tem levantado demandas em cinco quilombos da região sudeste do Estado, além de levar serviços de saúde, assistência social, assessoria jurídica e proteção de direitos

Por Geíne Medrado 

Com apoio da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), a Defensoria Pública da União (DPU) está realizando ação itinerante em comunidades quilombolas  da  região sudeste do Tocantins. Os atendimentos contam com a parceria da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) e diversas outras instituições. A ação teve início na segunda-feira (26) e será concluída nesta sexta-feira, 1° de março.

Os atendimentos estão sendo realizados em cinco comunidades quilombolas: Lajeado – Dianópolis, Laginha – Porto Alegre do Tocantins, São Joaquim – Porto Alegre do Tocantins, Baião – Almas, Poço D’Antas – Almas. A ação objetiva realizar a coleta de informações sobre demandas coletivas das comunidades e a educação em direitos. 

Além de prestar atendimentos individuais às comunidades, das quais os municípios estão na jurisdição da subseção judiciária de Gurupi, que não conta com unidade da DPU, o itinerário também disponibiliza o acesso a outros serviços como saúde, assistência social e assessoria jurídica e proteção de direitos, através da participação de diversas instituições. 

A ação teve início na segunda-feira (26) na comunidade Lajeado e em seguida nas comunidades Laginha e São Joaquim, na terça (27) e quarta-feira (28) respectivamente. A programação seguiu acontecendo, no município de Almas, na Comunidade Quilombola Baião, nesta quinta-feira (29),  e finaliza na comunidade Poço D’Antas, nesta sexta-feira (1°).  

Atendimento à saúde, durante ação itinerante realizada na comunidade quilombola Lajeado, na segunda-feira (26) – Foto:  Rafael Batista/Comunicação DPE-TO

A quilombola Laura Gualberto, secretária da Associação da Comunidade Quilombola Lajeado, reforçou a importância da ação itinerante para a inclusão social, diante da dificuldade de acesso a serviços básicos pelas comunidades quilombolas do Estado. 

“A ação itinerante que houve no quilombo de Lajeado foi de extrema importância para nós. Os serviços e atendimentos vieram de encontro às nossas demandas, pois moramos distantes da cidade e muitas vezes não temos condições de procurar esses serviços devido a falta de transporte. A presença itinerante demonstra o reconhecimento e respeito ao povo quilombola, promovendo inclusão social e valorização da cultura e tradições locais”, pontuou Laura Gualberto.
Laura Gualberto liderança quilombola da comunidade Lajeado – Foto: Foto:  Rafael Batista/Comunicação DPE-TO

Durante o levantamento de demandas, a comunidade quilombola Porto Alegre relatou que um grande desafio enfrentado é a questão da falta de água na comunidade. Foi relatado ainda problemas referente a rede elétrica e a necessidade de manutenção de uma ponte utilizada pela comunidade. 

“Esses atendimentos são muito importantes. Porém, um problema que percebemos é que em situação de conflito, os órgãos demoram muito para dar uma resposta para a comunidade e isso agrava a situação de conflito com fazendeiros, e a gente pode estar sofrendo retaliações com isso. Então, precisamos que a Defensoria volte mais rápido trazendo uma resposta para a comunidade”, reforçou Domingos Barbosa, da diretoria da Associação Remanescente de Quilombo da Comunidade São Joaquim. 

Para Neuzair, da comunidade quilombola  Laginha, a ação itinerante foi de suma importância para a comunidade, onde foram tratadas diversas questões como saúde, educação e assistência social, emissão de documentos, energia elétrica, além da resolução de conflitos. 

“Foi resolvida uma  demanda sobre água na comunidade. Relatamos ainda a situação da educação na comunidade. Crianças na faixa de 4 anos estão se deslocando aproximadamente 30 KM, às cinco da manhã para estudar, devido ao fato da escola dentro da comunidade ter fechado. Os órgãos disseram que vão procurar a melhor maneira de retornar às aulas. Foi um dos encontros que mais teve produtividade na nossa comunidade. Agradecemos aos órgãos e a COEQTO por essa iniciativa que tem surtido muito efeito para as comunidades quilombolas”, destacou Neuzair. 

Ação Itinerante 

O itinerante faz parte do projeto Território de Tradição e de Direitos, realizado em aldeias, quilombos e comunidades tradicionais, através do qual a DPU promove, em parceria com outras instituições, atendimento a povos indígenas, quilombolas e tradicionais. 

Além da Defensoria Pública da União (DPU), Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO) e Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), participam da ação o Instituto de Identificação, Receita Federal, Vigilância Sanitária, Prefeitura de Almas, Prefeitura de Dianópolis, Energisa, Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas, Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot), Secretaria de Assistência Social de Dianópolis, Secretaria de Assistência Social de Porto Alegre do Tocantins e Diretoria de Atenção Primária à Saúde.

Ação Itinerante. Foto: Rafael Batista/Comunicação DPE-TO

Lancha escolar do quilombo Ilha de São Vicente é atacada após vídeo de transporte viralizar nas redes sociais

Famílias da Comunidade Quilombola Ilha de São Vicente ficaram assustadas e preocupadas após um ataque à lancha escolar que atende a comunidade. A corda usada para manter o veículo aquático atracado no quilombo foi cortada na madrugada do dia 13 de fevereiro. A embarcação se deslocou e foi encontrada rio abaixo, a cerca de 7 quilômetros de onde estava, dentro de um lago.

A lancha fica sob responsabilidade de condutor da lancha, que é quilombola e responsável por transportar, diariamente, as crianças que moram na ilha para o cais do porto de Araguatins, onde os estudantes pegam ônibus para chegar às escolas onde são matriculadas. A situação nunca tinha acontecido e chocou os moradores.

Um boletim de ocorrência foi registrado e a Secretaria Municipal de Educação de Araguatins foi comunicada sobre o fato. Para evitar novos ataques, a Semed providenciou uma corrente que substituiu a corda cortada.

O ataque aconteceu quando um vídeo do transporte escolar viralizou no instagram da comunidade (@quilomboilhasaovicente). O vídeo que mostra parte do trajeto pelo rio atingiu quase 2 milhões de visualizações, 85 mil curtidas, 820 comentários de pessoas de todo o Brasil e mais de 15 mil compartilhamentos.

A situação preocupa a comunidade que enfrenta, há anos, uma situação de conflito por causa do processo de regularização territorial. A situação ocorreu três meses após a entrega do título do território à Associação da Comunidade Quilombola Ilha de São Vicente. Atualmente, centenas de pessoas não quilombolas moram em lotes comprados de forma irregular no território quilombola.

“Não sabemos porque fizeram isso ou a quem quiseram prejudicar. Esse é um transporte que carrega crianças todos os dias, então todo cuidado é pouco. A lancha poderia ter descido ou batido em algum lugar, ou provocado algum problema mecânico que poderia aparecer durante trajeto. Ficamos com medo e vimos como um ataque à comunidade”, disse uma moradora que por medo não quis ser identificada.

Saiba mais sobre a história do quilombo

Após 16 anos de espera, escola da Comunidade Quilombola Kalunga do Mimoso é inaugurada

A escola irá atender os alunos quilombolas da rede estadual e municipal que estudavam em situação precária, em estruturas sem banheiro e até mesmo assistiam aulas debaixo de uma árvore. Inauguração ocorreu após denúncia feita pela COEQTO que gerou repercussão nacional.

Por Geíne Medrado

Aconteceu nesta sexta-feira,26, a inauguração da Escola Polo, na Região Núcleo Matas, no município de Arraias-TO. A escola irá atender os alunos da rede municipal e estadual da Comunidade Quilombola Kalunga do Mimoso, que estudavam em situação precária, com escolas sem banheiro e sala improvisada embaixo de uma árvore. 

As obras da escola haviam sido iniciadas ainda em 2008 pela prefeitura de Arraias, ou seja, há cerca de 16 anos. A conclusão da unidade veio quase um ano depois da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) denunciar a situação e o caso ganhar repercussão nacional.

“A COEQTO vem acompanhando a situação das escolas de Kalunga do Mimoso há muito tempo. Um problema que passou em várias gestões. Ao darmos visibilidade por meio de denúncia pública, o Município e o Estado foram chamados para esse debate e metas foram traçadas para serem cumpridas. A COEQTO e a Associação de Kalunga tiveram grande importância nesse processo”, enfatizou o Coordenador de Educação da COEQTO, Evandro Moura Dias.  

O coordenador ainda comentou sobre os problemas estruturais que as comunidades quilombolas enfrentam. “A obra foi finalizada e entregue para a comunidade, mas esse é apenas um dos muitos problemas que temos. A resolução do problema da escola de Kalunga do Mimoso não faz com que o problema nas escolas de outras comunidades tenha sido resolvido. Então, a COEQTO vai continuar se posicionando, cobrando as autoridades públicas e levando as demandas das comunidades para que venham a ser sanadas”, pontuou. 

Clique no link e ouça o podcast Trilha Quilombola – episódio que aborda os problemas estruturais da Educação Escolar Quilombola. 

O presidente da Associação da Comunidade Quilombola Kalunga do Mimoso, Edi Soares de Sousa, comemorou a conquista e disse que a associação irá acompanhar o município na manutenção da estrutura e no apoio aos professores. “Queremos agradecer a todos os envolvidos na entrega da nossa Escola Polo. Isso vai ser uma melhoria para a nossa comunidade e para os nossos alunos, com estrutura, com espaço e lazer. Os alunos agora têm dignidade para uma aprendizagem melhor”, comentou.  

Relembre o caso

Em março de 2023, o Território Quilombola Kalunga do Mimoso e a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) denunciaram  a precariedade das escolas municipal e estadual, que atendiam estudantes da comunidade. 

Na denúncia, foi relatado uma série de problemas estruturais como a falta de banheiro nas escolas, superlotação das salas de aula  e dificuldades com o transporte escolar. Além disso, o prédio da Escola Municipal Eveny da Paula e Souza, que atendia os alunos do ensino fundamental, apresentava graves problemas estruturais e oferecia risco de segurança aos membros escolares e devido a sua superlotação, parte dos alunos assistiam às aulas debaixo de uma árvore. 

A conclusão das obras da Escola Polo Núcleo Matas, reivindicada pela comunidade para atender os estudantes aconteceu com ação da COEQTO, com a mobilização das autoridades responsáveis, e a partir de ação ajuizada, em fevereiro de 2023, pelo Ministério Público Federal, da comarca de Gurupi, a fim de obrigar o município de Arraias a concluir com recursos próprios a obra no espaço educativo urbano fazenda matas, objeto de convênio firmado com o Fundo Nacional de desenvolvimento da Educação (FNDE).

Escola Municipal Eveny da Paula e Souza. Foto: Arquivo
Banheiro em condições precárias. Foto: Arquivo

Realidade da educação escolar quilombola é discutida no Podcast Trilha Quilombola 

Lideranças quilombolas relatam desafios como a falta de formação específica para professores, evasão escolar, além de uma série de outros problemas estruturais.

 

Está no ar o novo episódio do Podcast Trilha Quilombola com o tema “Educação Escolar Quilombola: realidade e desafios”. No episódio, lideranças quilombolas relataram dificuldades como a precariedade na estrutura das escolas, falta de formação específica para professores, evasão escolar, além de uma série de outros problemas estruturais. 

O episódio conta com a participação do Coordenador de Educação da COEQTO Evandro Moura, liderança quilombola das Comunidades Lagoa da Pedra e Kaágados, que ficam localizadas no município de Arraias-TO; e da professora Osirene Francisca de Sousa da Comunidade Quilombola Povoado Prata, localizada no município de São Félix do Tocantins. 

O Podcast Trilha Quilombola é uma produção da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) em parceria com a ONG Alternativas para Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO). O programa tem o objetivo de compartilhar os saberes e as experiências de Territórios Quilombolas do Estado do Tocantins.

Para ouvir o Episódio, clique no Link

INCRA-TO entrega titulação territorial aos Quilombolas da Ilha de São Vicente, em Araguatins (TO), em cerimônia emocionante

Ilha de São Vicente é o primeiro território quilombola titulado no Tocantins. Além da COEQTO e INCRA, a Polícia Federal e outros órgãos do Governo Federal estiveram presentes na solenidade.

Quilombolas do Quilombo Ilha de São Vicente, em Araguatins, na região do Bico do Papagaio, receberam neste sábado (25), a titulação do território em uma cerimônia dentro da comunidade. A entrega emocionante foi dedicada aos ancestrais do quilombo, que morreram lutando e sonhando com a regularização. A comunidade é o primeiro território quilombola titulado no Estado do Tocantins. 

O  Título de Concessão de Direito de Uso sobre a Terra, que foi entregue pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 20 de novembro no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), agora chega ao quilombo. O documento, que informa que a comunidade quilombola é a única responsável legal pelo território, foi entregue por Edmundo Rodrigues Costa, superintendente do INCRA-Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Tocantins nas mãos das famílias.

Foto: Arquivo da Comunidade

Simbolizando a luta passada por gerações, as crianças deram o título nas mãos dos anciãos. O título conjunto em nome da Associação da Comunidade dá direito ao uso da terra e não permite que o território seja vendido, continuando a lógica ancestral, de que o espaço seja ocupado por diferentes gerações.

A emoção das famílias contagiou a todos e todas que estavam presentes.

“Esse momento finalmente chegou. Choramos de alegria, de alívio. Já passamos por momentos muito tristes e de muita luta e desespero nesse território. Nossos ancestrais foram os primeiros habitantes e já vimos até Salvador Barros ser despejado e outros quilombolas terem suas casas queimadas dentro do território sagrado. Essa é parte de uma reparação histórica. Estamos aqui desde 1888 e agora temos nas mãos a titulação. Agradecemos primeiramente a Deus e aos órgãos que acompanharam o processo. Fátima Barros, presente. Salvador Barros, presente!”, disse uma liderança.

Edmundo Rodrigues Costa, Superintendente do Incra no Tocantins, destacou a importância da conquista da titulação do Território e informou que o próximo passo é realizar ação de reintegração de posse para a retirada de pessoas não quilombolas do Território, bem como garantir a segurança da comunidade.

“A nossa preocupação agora é garantir a segurança das famílias que estão constantemente sendo ameaçadas. O título é uma parte do processo. Para avançarmos nas políticas públicas, o processo finaliza com a área sendo retomada pelo INCRA para que as famílias possam trabalhar e viver com tranquilidade e dignidade”, pontuou Edmundo.

Foto: Manoel Júnior/Sepot – Governo do Tocantins

O assessor jurídico da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), o advogado Cristian Ribas, acompanhou a cerimônia.

Também estiveram presentes policiais da Polícia Federal, Diego Montelo superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Tocantins (MDA); Cláudia Maria Dadico – ouvidora Agrária do MDA Nacional; Edy César – superintendente da SPU Tocantins;   Carlos César D’Elia – coordenador geral do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários do MDA; Maíra Coraci – diretora da Câmara de Conciliação Agrária do INCRA Nacional; Geraldino Gustavo de Queiroz Teixeira – conciliador Agrário Regional do INCRA Tocantins;  e Willian Clementino – chefe da Unidade Avançada do INCRA em Araguatins (TO) e Hermógenes Alves Lima Sales e Manoel Júnior, representando a Secretaria de Povos e Comunidades Tradicionais do Tocantins.

Na oportunidade, também foi feita reunião com a comunidade para discutir procedimentos após a titulação do Território, bem como estratégias de proteção às famílias que estão mais expostas à violência, devido ao agravamento de conflito com invasores.

A comunidade falou sobre as preocupações e insegurança e entregou aos representantes de cada órgão um pedido formal de proteção. Cristian Ribas, advogado e assessor jurídico da COEQTO, reforçou que um grande passo foi dado, mas agora a comunidade precisa viver em segurança e que o Estado Brasileiro tem o dever de proteger cada quilombola dentro do seu território.

O MDA fez vistoria e registrou grandes áreas desmatadas ilegalmente dentro do território. Um dos espaços visitados foi o local onde ficava a árvore centenária que era protegida pela comunidade quilombola. A árvore da espécie Estopeito foi derrubada em fevereiro deste ano por invasores e transformado em madeira.

A juíza aposentada Claudia Maria Dadico, fez escuta e ouviu quilombolas que passaram por situações de ameaças. A equipe que realiza mediação e conciliação de conflitos agrários também teve acesso a prints que fazem parte de uma campanha de difamação contra a comunidade quilombola. Os ataques virtuais de cunho racista se intensificaram depois da notícia da titulação do território quilombola.

A comunidade quilombola Ilha de São Vicente, cercada pelo Rio Araguaia, na Região do Bico do Papagaio, surgiu em 1888 e possui mais de 70 famílias descendentes de escravizados. Lideranças como Salvador Barros e Fátima Barros, que já faleceram, estiveram à frente da luta pela titulação do território.

Foto: Arquivo da Comunidade
Foto: Manoel Júnior/Sepot – Governo do Tocantins