Audiência Pública discute conflito agrário no Território Quilombola Claro, Prata e Ouro Fino 

Quilombo sofre com invasões e crimes ambientais e cobra do INCRA a finalização de RTID da comunidade, iniciado há 10 anos

Por Geíne Medrado

Nesta quinta-feira (04), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) acompanhou audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Povoado Campo Alegre, no município de Paranã – TO, para discutir a situação de conflito agrário e ambiental no território quilombola Claro, Prata e Ouro Fino.

Conforme levantado na audiência, a comunidade denuncia a tentativa de apropriação das terras do quilombo por parte de grileiros e latifundiários, bem como a prática de crimes ambientais e exploração do turismo por terceiros.  

“Nota-se que a questão da exploração do turismo na região agrava ainda mais o conflito, visto que os empresários que adquiriram propriedades no território, excluem as comunidades da atividade turística. Diante do impasse, é urgente a demarcação do território para que o conflito seja resolvido e que a posse seja garantida à comunidade”, destacou Yonaria Alves Patricio, assessora jurídica da COEQTO.

Diante disso, a comunidade reivindica a conclusão do relatório técnico de identificação e delimitação (RTID) do território, iniciado em 2014, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA/TO).

Vale ressaltar que tramita na Procuradoria da República no Estado do Tocantins um inquérito civil que visa garantir a posse integral do território à Comunidade Quilombola Claro, Prata e Ouro Fino. 

Além de lideranças do quilombo, também participaram da audiência representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Superintendência Regional de Tocantins (INCRA/TO),  Núcleo da Defensoria Pública Agrária do Tocantins (Dpagra), poder público municipal de Paranã, Polícia Civil e Polícia Militar.

Encaminhamentos 

Na audiência, a comunidade cobrou dos órgãos responsáveis urgência na conclusão do RTID e que haja celeridade no processo. 

O INCRA, informou que a maior parte das peças de RTID da comunidade já foram concluídas, e que, será possível, em curto prazo de tempo, a finalização e disponibilização do documento à comunidade. 

Em reunião com o CNDH, COEQTO denuncia situações de violação aos Direitos Humanos sofridas pelas Comunidades Quilombolas do Estado

Por Geíne Medrado

A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) esteve reunida com o Presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), André Carneiro, para tratar das diversas violações de Direitos Humanos sofridas pelas comunidades quilombolas do Estado do Tocantins. A reunião aconteceu nesta quarta-feira, na sede da OAB, em Palmas-TO.

Na reunião, a COEQTO denunciou a situação de conflito e violência sofridas pelas comunidades, bem como a ausência de políticas públicas básicas de garantia à dignidade humana como o acesso a água tratada, saúde e educação de qualidade. Também foi citado os impactos do avanço da mineração nos Quilombos no Tocantins. 

A Coordenação relatou ainda a negligência do Estado na Regularização dos Territórios Quilombolas do Tocantins e pediu apoio do CNDH no reforço à segurança das comunidades em situação de violência e conflitos agrários como os Quilombos Rio Preto, Clara Prata e Ouro Fino, Brejão, Ilha de São Vicente e outros. 

“Temos 44 territórios quilombolas e nenhum regularizado. A situação de muitas comunidades é de insegurança devido ao aumento de conflitos e violência. Falta o básico para as comunidades como acesso à água tratada, educação e saúde. Precisamos de apoio para melhorar a nossa realidade no Estado”, disse Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, coordenadora Executiva da COEQTO. 

André Carneiro reforçou que o objetivo da agenda de reuniões do CNDH no Tocantins é ouvir as denúncias da sociedade civil em relação às violações de Direitos Humanos relacionadas à segurança pública e a partir dessa escuta criar estratégias conjuntas para resolução das situações. 

“Vamos fazer um relatório com o que foi relatado na reunião e fazer recomendações para o poder Público sobre situações mais delicadas de segurança das comunidades. A ideia é que a partir dessa documentação, as próprias comunidades possam cobrar das autoridades públicas uma resposta das recomendações que serão formuladas”, informou.

O presidente ainda reforçou a importância da presença dos movimentos sociais na audiência pública que será realizada na sexta-feira, 27, na Defensoria Pública do Estado, às 14h, para construir uma agenda de segurança pública que respeite os Direitos Humanos e o Estado Democrático. 

COEQTO cobra do MPF o andamento de processos que tramitam na comarca de Gurupi

Por Geíne Medrado

Imagem de capa: Lideranças quilombolas do território Claro, Prata e Ouro Fino olhando o mapa da do território com em setembro de 2022 | Foto: Maryellen Crisóstomo

Nesta quinta-feira, 20, foi realizada reunião entre a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e o Ministério Público Federal (MPF), com o intuito de acompanhar as movimentações dos processos, que tramitam na comarca de Gurupi, referentes às questões vivenciadas por quilombolas da região sudeste, onde se concentra o maior número de comunidades que enfrentam conflitos territoriais no Estado do Tocantins.

As discussões se concentraram especialmente em torno dos processos a respeito do quilombo Baião, no município de Almas, que vive sob os impactos da mineração; Brejão, em Natividade, e Claro, Prata e Ouro Fino, em Paranã, comunidades que, atualmente, têm sofrido situações de extrema violência, com aumento de casos de incêndios e invasões de suas propriedades por parte de grileiros e latifundiários.

Sobre a situação do Baião

A comunidade Baião, antes da instalação da Mineradora Aura Almas Mineração LTDA, solicitou ao MPF de Gurupi um acompanhamento do empreendimento para que fosse respeitado os limites territoriais do quilombo e a fim de evitar possíveis impactos ambientais e sociais. Porém, o caso não recebeu a devida atenção das autoridades competentes. Agora, com mais de um ano de atividade, a empresa segue explorando a região, sem ter elaborado o devido estudo de impactos ambientais.

“Uma das preocupações sobre a situação vivenciada no Baião é em relação aos aspectos hídricos. A comunidade já sofre com a questão da falta de água. E com o avanço da mineradora, esse problema se intensifica, o que pode inviabilizar a permanência da comunidade na região”, analisou o assessor jurídico da COEQTO Cristian Ribas.

Diante do caráter de urgência da situação, em setembro de 2021, a comunidade realizou uma denúncia junto ao MPF, solicitando a intervenção do órgão no andamento da implementação da mineradora. O principal ponto defendido pelas lideranças é o direito da consulta livre, prévia e informada com amplo acesso aos estudos de impactos do empreendimento, assegurando aos próprios quilombolas apontarem o que avaliam que seja melhor para a comunidade. 

O Protocolo de Consulta Pública do Baião foi concluído em 23 de julho de 2022, sendo anexado ao processo contra a mineradora. Todavia, o juiz responsável pelo processo indeferiu o pedido de ação civil pública que obrigasse a mineradora a acolher o protocolo de consulta elaborado pela comunidade, com a justificativa de que não há fatos novos no processo.

“Porém, esses fatos novos dependem do recolhimento das licenças da mineradora junto aos órgãos ambientais, o que ainda não foi feito, visto que esses órgãos não responderam aos ofícios encaminhados pelo juiz”, explicou Cristian Ribas. Em 05 de agosto, o MPF despachou ofícios para a  Agência Nacional de Mineração, Fundação Cultural Palmares, ao INCRA e ao NATURATINS para que fornecessem, dentro do prazo de 10 dias, as informações requeridas. Entretanto, os órgãos notificados não respeitaram o prazo estabelecido. O MPF segue aguardando as respostas para que haja  andamento no processo.

Brejão

A comunidade Brejão denuncia o avanço do desmatamento, além do aumento dos casos de violência praticada por fazendeiros em seus territórios, que têm evoluído de intimidações e ameaças para morte de animais e casas incendiadas.

“Essa semana tivemos mais um caso de incêndio lá, aconteceu na casa de uma das lideranças. Temos observado que essa prática criminosa está ocorrendo com bastante frequência no Brejão e também em outras comunidades do sudeste do estado como Formiga, Carrapato, Ambrósio, Claro, Prata e Ouro Fino”, relatou Maria Aparecida de Sousa, coordenadora executiva da COEQTO.

Felizmente, o quilombo Brejão teve uma recente conquista no processo de regularização do seu território, tendo enfim recebido a certificação de reconhecimento da comunidade, emitida pela Fundação Cultural Palmares. A expectativa é que essa certificação seja incluída no processo do Brejão para contrapor às contestação dos fazendeiros em relação à “não existência” da comunidade na região.

Claro, Prata e Ouro Fino

Diante do avanço do desmatamento e embates com grileiros e latifundiários, as lideranças do quilombo Claro, Prata e Ouro Fino acionou o MPF requerendo que fosse realizada a identificação da área desmatada que adentra no território quilombola. Além disso, foi adicionado ao processo, o caso recente de incêndio que ocorreu, há três semanas, em uma casa na comunidade.

O órgão está trabalhando nas coordenadas geográficas da região para identificar a área do desmatamento.

Encaminhamentos

A COEQTO entende que a situação vivenciada pela comunidade Baião deve receber uma atenção com caráter de urgência pelas autoridades competentes, já que a mineradora está trabalhando há mais de um ano no município de Almas, o que sem o devido controle, pode ensejar danos irreversíveis à comunidade.

“Nós não temos estafe jurídico para lidar com a amplitude do problema enfrentado pelo Baião e estamos muito preocupados com a forma como o MPF tem tratado a situação, que demanda uma solução urgente. A comunidade precisa de respaldo do órgão. Nós entendemos que o MPF tem o dever de processar o pedido de consulta prévia, efetuado pelo Baião”, argumentou o assessor jurídico da COEQTO, Cristian Ribas.

Para tentar agilizar o andamento no processo do Baião, o MPF está cobrando as respostas dos órgãos ambientais notificados em 5 de agosto de 2022, para que, então, seja realizada deliberação acerca da necessidade de estudo antropológico, a fim de apurar se há, de fato impactos ambientais decorrentes da atividade minerária sobre a comunidade quilombola.

A respeito do Brejão, existe uma Ação Civil Pública em andamento, com última movimentação realizada no final de setembro pela comarca de Gurupi. Será juntado ao processo, o certificado de reconhecimento da comunidade quilombola Brejão, emitido na última semana.

Em relação ao caso de desmatamento e incêndios criminosos no Claro, Prata e Ouro Fino,  agora o processo passará a ser tramitado na comarca de Palmas. 

Quilombolas do Jalapão: “Exigimos respeito aos nossos territórios e nossas vozes”

Em reunião com o secretário-chefe da Casa Civil e com o Procurador Geral do Estado, COEQTO pele titulação de terras e direito à consulta prévia sobre concessão do Parque Estadual do Jalapão

Por Matheus Zanon

Nesta segunda-feira (29/11), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), em nome das dez comunidades quilombolas afetadas pela privatização do Parque Estadual do Jalapão, se reuniu com o secretário-chefe da Casa Civil Deocleciano Gomes Filho e com o Procurador Geral do Estado Elfas Cavalcante para exigir o direito à regularização de seus territórios e entregar o protocolo de consulta prévia elaborado pelos quilombolas. O protocolo de consulta prévia é um instrumento que garante a
escuta dos povos e comunidades tradicionais, respeitando seus termos e saberes coletivos, e foi chancelado pelo Ministério Público Federal.


“Nós, quilombolas do Jalapão, queremos nossos direitos, nossos territórios e nossas vozes respeitadas. Só existe respeito às comunidades se a consulta livre, prévia e informada, conforme construção coletiva, for respeitada pelo Governo. Esse é o único caminho de garantir a intenção de diálogo anunciada pelo Governo”, defende a coordenadora executiva da COEQTO e da CONAQ, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa.


O Ministério Público Federal já chancelou o protocolo que dita o passo a passo de como deve ser feita a consulta prévia das comunidades do Jalapão. Cabe agora ao governo do estado seguir o passo a passo determinado no protocolo. “As audiências públicas que o governo insiste em manter agendadas para os dias 30 de novembro e 1º de dezembro não se encaixam no rito de consulta chancelado pelo MPF”, completa Maria Aparecida.

COEQTO se reuniu com o secretário-chefe da Casa Civil na tarde desta segunda-feira, 29


Na última sexta-feira, 26, o decreto 6.347, do governo estadual, criou um novo grupo de trabalho para estudos sobre a regularização das comunidades quilombolas. O grupo formado, entretanto, não representa as comunidades, e excluí do debate as lideranças quilombolas.

“Com o decreto o Estado não oferece uma proposta concreta e detalhada sobre como vai regularizar os territórios. Ele não prevê orçamentos ou prazos dedicados para a regularização dos territórios, nem atende às demandas das dez comunidades. O que queremos é o respeito ao nosso direito à consulta prévia conforme garante o tratado internacional da OIT, convenção 169, da qual o Brasil é signatário, e a regularização de nossos territórios ancestralizados”, ressalta Maria Aparecida.

A COEQTO aponta que, desde 2009, o estado do Tocantins nega o direito de titulação e regularização dos territórios. “Nestes 12 anos, nunca houve titulações. São sempre apresentados novos argumentos, novas leis, novos processos, e as mesmas velhas desculpas. Enquanto isso, o verdadeiro processo de titulação com o INCRA nunca é tocado pelo estado”, reforça a representante da COEQTO.

Ato
Em defesa das comunidades quilombolas e do seu direito à consulta prévia, a COEQTO realizará uma manifestação na quarta-feira, 1º de dezembro, às 14 horas, em frente ao Palácio Araguaia, em Palmas.

Contato para imprensa
Matheus Zanon
matheus@alterconteudo.com.br
(21) 96907-5528

Lideranças quilombolas do Jalapão denunciam arbitrariedade no processo de concessão do Parque Estadual em audiência na Câmara dos Deputados

Por Maryellen Crisóstomo

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira, 24, lideranças quilombolas do Jalapão denunciaram a arbitrariedade do Governo do Tocantins no processo de concessão. A audiência foi encerrada às 16h40,  entre os encaminhamentos deve ser criada uma comitiva de parlamentares e líderes locais para dialogar com o Governo do Estado, além da exigência do cumprimento dos protocolos de Consultas. A Audiência foi pedida pela deputada federal Vivi Reis (PSOL/PA).

Desde o votação do projeto de lei que autoriza a concessão do Parque Estadual do Jalapão pela Assembleia Legislativa do Tocantins, em um processo tumultuado e unilateral sem ouvir a população impactada pela medida, lideranças quilombolas têm denunciado a ausência de diálogo com o governo do Estado com sucessivas violações de direitos.

“O governo do Tocantins tem violado os direitos das comunidades quilombolas do Jalapão assim como fizeram no processo de implantação do Parque. Eles estão vendendo os territórios quilombolas porque os territórios não estão demarcados. Só Deus sabe o futuro que nos espera se esse projeto for adiante”, denunciou Joaquim Neto Almeida, presidente da Ascolombolas Rios.

Maria Aparecida Sousa ressaltou a falta de vontade política de sucessivos governadores do Tocantins em assegurar à população quilombola o acesso pleno aos seus territórios. O Estado não possui nenhuma comunidade com território totalmente demarcado.

“A gente sabe o quanto isso será prejudicial para as comunidades. Se o Estado quiser regularizar os territórios quilombolas, ele pode regularizar os territórios. A exploração do turismo é uma exploração violenta que não respeita os quilombolas que ali já estão. Nós somos contra a privatização do Jalapão. Nós queremos os nossos territórios titulados não só do Jalapão, mas dos 38 quilombos do Tocantins. Não vamos calar! Vidas quilombolas importam.” enfatizou Sousa que é coordenadora executiva da COEQTO e da CONAQ.

A maneira como o processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão tem sido conduzida causa medo no povo quilombola local.

Como eu vou ter dúvida de um projeto que eu não conheço. deixaram um livro aqui de 500 páginas eu ainda não li e não sei se dou conta, está aqui na associação, os comunitários vêm e olham assustados. O Governo pegou o projeto da concessão atropelando todas e todas. Eu sinto medo como liderança”, ressaltou Railane Ribeiro, presidente da associação do quilombo Mumbuca.

Como desdobramento da Audiência pública a deputada Vivi Reis elencou os seguintes encaminhamentos:

  • Denunciar as falsas consultas divulgadas pelo Governo do Tocantins;
  • Exigir que se cumpra os protocolos de consulta às comunidades quilombolas do Jalapão;
  • O PSOL vai entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) contra o Governo do Tocantins;
  • Realizar uma reunião com o BNDES;
  • Criar uma comitiva de parlamentares e líderes locais para dialogar com o Governo do Tocantins.

Além das lideranças quilombolas dos territórios do Jalapão, a coordenadora executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), também foram ouvidos representantes da Universidade Federal do Tocantins (UFT, do Ministério Público Federal (MPF/TO) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)

Link da Audiência pública disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=NcaBKldRnPA&list=TLGGNeK6tPAC980yNDExMjAyMQ

Convidados:

  • Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, Coordenadora Executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ);
  • Joaquim Neto Almeida de Souza, Presidente da Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão (Ascolombolas Rios);
  • Osirene Francisca de Sousa, Representante do quilombo Povoado do Prata;
  • Jussara Tavares da Silva, Presidente da Associação Quilombolas Carrapato, Mata, Formiga e Ambrósio;
  • Railane Ribeiro, Presidente da Associação de Moradores do Povoado Mumbuca;
  • Rogério Srône Xerente, Assessor jurídico da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB);
  • João Aparecido Bazzoli, Coordenador do Laboratório de Cidades da Universidade Federal do Tocantins (Labcidades/UFT);
  • Ana Lúcia Pereira, Membro do Grupo de Extensão e Pesquisa “Igualdade Étnico-Racial e Educação” da Universidade Federal do Tocantins (IERE/UFT); e
  • Álvaro Lotufo Manzano, Procurador do Ministério Público Federal no Tocantins (MPF/TO).

Governo do Tocantins viola Direitos dos quilombolas do Jalapão e ignora a realização de Consultas Prévias

Processo de concessão avança e lideranças temem pela segurança de ir e vir nos próprios territórios

A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) denuncia a arbitrariedade com que o Governo do Tocantins coordena o processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão. Seguindo a política nacional de privatização de bens públicos, o Estado do Tocantins avança no processo de concessão e viola o direito das Comunidades quilombolas de serem consultadas de forma livre prévia e informada, prevista na Convenção 169 da OIT. Audiências públicas sobre a concessão serão realizadas sem tempo hábil para as comunidades avaliarem os documentos do estudo de viabilidade da concessão. 

“É um documento muito técnico e o prazo entre a publicação e a data de realização das audiências é de menos de uma semana. Não tem como as comunidades ler e assimilar todo o conteúdo para que haja debate nas audiências”, avalia o assessor Jurídico da COEQTO, Cristian Ribas.

Entre as linhas do documento do Estudo, a lideranças destacam com preocupação a seguinte colocação: 

Anexo I. 5.1.3.A ÁREA DA CONCESSÃO poderá ser expandida, de modo a abranger novas áreas do PARQUE  que  permitam  uso  público  e  não  prejudiquem  POVOS  E  COMUNIDADES TRADICIONAIS,  mediante  pedido  formal  da  CONCESSIONÁRIA,  do  qual  deverá constar demonstração das atividades que se pretende desenvolver, SERVIÇOS que se pretende  prestar,  sua  inequívoca  aderência  às  normas  e  restrições  estabelecidas  no PLANO  DE  MANEJO  vigente  e  a  inequívoca  ausência  de  prejuízo  aos  POVOS  E COMUNIDADES  TRADICIONAIS, sempre observada  a  manutenção  do  equilíbrio econômico-financeiro.

A possibilidade de expansão das áreas por ora concedidas acende um alerta para a segurança dos territórios quilombolas. “É uma tentativa de enganar o povo. Eles vão apresentar uma área no primeiro momento, para conseguir aprovação, e depois vão expandir para dentro das áreas quilombolas onde estão os atrativos que lucram mais”, avalia o assessor de projetos da COEQTO, Paulo Rogério.

No último dia 14, o Ministério Público Federal emitiu outra liminar sobre o processo de concessão. “O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer seja novamente apreciado o pedido de concessão de tutela antecipada para suspender todo o processo de concessão até que seja determinada a realização de consulta prévia, com protocolo a ser debatido e construído previamente junto com as comunidades envolvidas”, manifestou o procurador Dr. Manzano.

No documento o MPF destaca ainda que as audiências públicas não substituem a Consulta livre, prévia e informada. “Vale dizer, o processo de consulta às comunidades tradicionais não se confunde com a realização de audiências públicas.” ressalta o procurador Federal Leandro Manzano em liminar publicada no último dia 14.

O avanço do processo de concessão sem garantias do direito ao acesso pleno aos territórios para os povos quilombolas é uma ameaça às comunidades tradicionais. “Pelo que já se ouve sobre o documento, vai ser ruim para todas as comunidades”, aponta Joaquim Neto, presidente da ASCOLOMBOLAS Rios, ao se referir ao estudo publicado pelo Governo do Tocantins, no último dia 15.

Caso o encaminhamento do Ministério Público Federal não seja acatado, o movimento quilombola vai realizar protestos solicitando diálogo com o Governo nos termos da Convenção 169 da OIT e a demarcação e titulação dos territórios quilombolas do Jalapão.

Mobilização em Mateiros dia 21/10 – 08h – em frente ao CAT

 Mobilização em Palmas 22/10 – 14h em frente ao palácio

O Jalapão é Quilombola!

Contra a concessão e a favor da demarcação territorial

Lideranças quilombolas do Jalapão denunciam violações de direitos no processo de concessão do Parque por parte do Governo do Tocantins

Comunidades tradicionais não são ouvidas e denunciam pressão do Estado

Em carta aberta à sociedade, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e as entidades que a subscrevem, denunciam violações no processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão. As lideranças têm recebido pressões do Governo do Estado para participarem de reuniões marcadas com prazos exíguos, sem comunicados oficiais às associações que, ao questionarem a inviabilidade de participação ampla da comunidade, os representantes do Estado começam a fazer ligações para pessoas isoladas a fim de garantir quórum nas reuniões.

Segundo o presidente da ASCOLOMBOLAS Rios, Joaquim Neto, a situação de desrespeito às comunidades tradicionais do Jalapão se repete como aconteceu no processo de instalação do Parque. “Assim como a gente não teve direito à voz no processo de criação do Parque, agora o processo de concessão está sendo pior”, alerta.

À medida que o Estado avança no processo de concessão dos Parques, os povos impactados são cada vez mais relegados dos espaços de discussões. “Não nos procurou no processo de criação da lei dessa concessão dos Parques. Quando nos é procurado para dar a nossa opinião, eles vêm com um cronograma de reunião em que não dá tempo para nós mobilizar todo o nosso pessoal e também não dá tempo para a gente se articular para que nós tenhamos um acompanhamento de técnicos da área jurídica que defendam os quilombolas ou até do Ministério Público que às vezes é interessante participar”, relata Joaquim Neto.

No próximo dia 16 o Governo do Tocantins por meio da ADETUC vai ao Jalapão com o BNDES para realizar uma reunião em que as associações foram comunicadas com dois (2) dias de antecedência. 

“Estamos lançando uma carta em que manifesta toda a nossa preocupação de indiferença do Estado em querer que a gente reúna em tempo muito ligeiro. Estamos muito preocupados e aflitos com as ações que o Estado está tendo conosco, nos impondo reuniões em datas não programadas e sem adiantamento da pauta. Queremos que nos envie o comunicado formalmente e que a gente aceite formalmente para que a gente não seja prejudicado”, ressalta, a liderança.

CARTA ABERTA À SOCIEDADE TOCANTINENSE

Palmas, 14 de setembro de 2021. 

As comunidades quilombolas do Jalapão, suas associações e as entidades de apoio subscritas abaixo, vêm expressar a imensa preocupação com a ausência de consulta e diálogo com as comunidades quilombolas e tradicionais durante o processo de aprovação e sanção da legislação que autoriza a concessão de Parques estaduais, entre eles o Jalapão, à iniciativa privada.

A vantagens financeiras da concessão não podem suplantar o bem-viver dos povos e comunidades que ali fizeram morada nos tempos de escravidão legal no Brasil. Os quilombos se formaram na Região do Jalapão bem antes da instalação do Parque Estadual que sobrepôs territórios quilombolas no início dos anos 2.000. Ao invés de demarcar os territórios e titular, o Estado do Tocantins desde a implantação do Parque, tem agido em prol de inviabilizar as vivências dos povos tradicionais no Jalapão. É preciso demarcar os territórios em respeito aos povos que convivem harmoniosamente com o Jalapão desde o final do século XIX. Os povos tradicionais não são considerados entre os índices de desenvolvimento econômico deste Estado e nisso, consiste a luta pelo acesso pleno à terra e ao território e contra políticas excludentes.

As lideranças denunciam que as comunidades estão sendo convocadas pelo Governo do Estado do Tocantins para reuniões, definidas de forma unilateral e reiteradamente, não concedendo às comunidades nem mesmo o direito de opinarem sobre datas e horários. 

Tal situação viola frontalmente o artigo 6º, 1 e 2 da Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e que impõe ao Estado o dever de consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais sobre as medidas administrativas e legislativas suscetíveis de afetá-las diretamente, bem como assegurando sua participação na adoção de decisões. 

Assim, considerando o delicado contexto atual e com o objetivo de assegurar os direitos das comunidades, exigimos que a partir de agora, qualquer reunião das

secretarias ou outro órgão do Estado, deverão ser solicitadas junto às associações através de ofícios encaminhados em nome de seus presidentes, com o prazo mínimo de 20 (vinte) dias de antecedência para assegurar a ampla participação das comunidades impactadas. Na ocasião, também deverão apresentar as pautas a serem discutidas. 

Solicitamos ainda que o Governo do Tocantins apresente uma agenda de discussões e inicie o debate para assegurar a demarcação e titulação dos 38 territórios quilombolas do Estado. Que o Estado apresenta o estudo sobre os impactos da demarcação territorial, por ele solicitado, para a tramitação e aprovação do texto da Lei de demarcação territorial encaminhado ao Governo pelo Ministério Público Federal, há  mais de cinco (5) anos.

Ademais, com relação a solicitação de comunicados prévios das reuniões no âmbito da concessão do Parque Estadual do Jalapão, a reivindicação se faz necessária para evitar que as associações e comunidades continuem sendo surpreendidas com reuniões repentinas, sem comunicado oficial prévio, sem adiantamento de pauta, sem oferecer tempo hábil para as associações mobilizarem suas comunidades e garantir ampla participação de todos, como está acontecendo nesse exato momento, onde pessoas da comunidade estão sendo convidadas de maneira individual para reunião com ADETUC e BNDES e não se sabe para qual pauta.

Vamos falar de demarcação territorial?

Em defesa da vida, dos territórios e do Jalapão!

Assinam esta carta

:

Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO)

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)

Associação Quilombolas Carrapato, Mata, Formiga e Ambrósio – Presidente: Jussara Tavares Da Silva

Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão (ASCOLOMBOLAS RIOS) – Presidente: Joaquim Neto Almeida de Souza

Associação Comunitária dos artesãos e pequenos produtores de Mateiros – Presidenta: Laudeci Ribeiro de Sousa Monteiro

Associação Comunitária dos Extrativistas Artesãos e pequenos produtores da Comunidade Quilombola do Prata – Presidente: Aulerinda dos Passos Ribeiro

Alternativa para Pequena Agricultura no Estado do Tocantins (Apa-to)

Articulação Tocantinense de Agroecologia  (ATA)

Conselho Indigenista Missionário – Regional Goiás/Tocantins (CIMI)

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)

Comissão da Pastoral da Terra (CPT)

Terra de Direitos

Central do Cerrado

Coalizão Negra Por Direitos

Articulação Rosalino e movimento Geraizeiro

Conselho Nacional das populações extrativistas – CNS Regional Tocantins

Associação das Mulheres Trabalhadoras rurais do Bico do Papagaio (ASMUBIP)

Centro de Trabalho Indigenista

Campanha Nacional em Defesa Cerrado

Grupo Carta de Belém

Angá – Associação para a gestão socioambiental do Triângulo Mineiro

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)

Associação Agroecológica Tijupa