Quilombolas do Jalapão: “Exigimos respeito aos nossos territórios e nossas vozes”

Em reunião com o secretário-chefe da Casa Civil e com o Procurador Geral do Estado, COEQTO pele titulação de terras e direito à consulta prévia sobre concessão do Parque Estadual do Jalapão

Por Matheus Zanon

Nesta segunda-feira (29/11), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO), em nome das dez comunidades quilombolas afetadas pela privatização do Parque Estadual do Jalapão, se reuniu com o secretário-chefe da Casa Civil Deocleciano Gomes Filho e com o Procurador Geral do Estado Elfas Cavalcante para exigir o direito à regularização de seus territórios e entregar o protocolo de consulta prévia elaborado pelos quilombolas. O protocolo de consulta prévia é um instrumento que garante a
escuta dos povos e comunidades tradicionais, respeitando seus termos e saberes coletivos, e foi chancelado pelo Ministério Público Federal.


“Nós, quilombolas do Jalapão, queremos nossos direitos, nossos territórios e nossas vozes respeitadas. Só existe respeito às comunidades se a consulta livre, prévia e informada, conforme construção coletiva, for respeitada pelo Governo. Esse é o único caminho de garantir a intenção de diálogo anunciada pelo Governo”, defende a coordenadora executiva da COEQTO e da CONAQ, Maria Aparecida Ribeiro de Sousa.


O Ministério Público Federal já chancelou o protocolo que dita o passo a passo de como deve ser feita a consulta prévia das comunidades do Jalapão. Cabe agora ao governo do estado seguir o passo a passo determinado no protocolo. “As audiências públicas que o governo insiste em manter agendadas para os dias 30 de novembro e 1º de dezembro não se encaixam no rito de consulta chancelado pelo MPF”, completa Maria Aparecida.

COEQTO se reuniu com o secretário-chefe da Casa Civil na tarde desta segunda-feira, 29


Na última sexta-feira, 26, o decreto 6.347, do governo estadual, criou um novo grupo de trabalho para estudos sobre a regularização das comunidades quilombolas. O grupo formado, entretanto, não representa as comunidades, e excluí do debate as lideranças quilombolas.

“Com o decreto o Estado não oferece uma proposta concreta e detalhada sobre como vai regularizar os territórios. Ele não prevê orçamentos ou prazos dedicados para a regularização dos territórios, nem atende às demandas das dez comunidades. O que queremos é o respeito ao nosso direito à consulta prévia conforme garante o tratado internacional da OIT, convenção 169, da qual o Brasil é signatário, e a regularização de nossos territórios ancestralizados”, ressalta Maria Aparecida.

A COEQTO aponta que, desde 2009, o estado do Tocantins nega o direito de titulação e regularização dos territórios. “Nestes 12 anos, nunca houve titulações. São sempre apresentados novos argumentos, novas leis, novos processos, e as mesmas velhas desculpas. Enquanto isso, o verdadeiro processo de titulação com o INCRA nunca é tocado pelo estado”, reforça a representante da COEQTO.

Ato
Em defesa das comunidades quilombolas e do seu direito à consulta prévia, a COEQTO realizará uma manifestação na quarta-feira, 1º de dezembro, às 14 horas, em frente ao Palácio Araguaia, em Palmas.

Contato para imprensa
Matheus Zanon
matheus@alterconteudo.com.br
(21) 96907-5528

Lideranças quilombolas do Jalapão denunciam arbitrariedade no processo de concessão do Parque Estadual em audiência na Câmara dos Deputados

Por Maryellen Crisóstomo

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira, 24, lideranças quilombolas do Jalapão denunciaram a arbitrariedade do Governo do Tocantins no processo de concessão. A audiência foi encerrada às 16h40,  entre os encaminhamentos deve ser criada uma comitiva de parlamentares e líderes locais para dialogar com o Governo do Estado, além da exigência do cumprimento dos protocolos de Consultas. A Audiência foi pedida pela deputada federal Vivi Reis (PSOL/PA).

Desde o votação do projeto de lei que autoriza a concessão do Parque Estadual do Jalapão pela Assembleia Legislativa do Tocantins, em um processo tumultuado e unilateral sem ouvir a população impactada pela medida, lideranças quilombolas têm denunciado a ausência de diálogo com o governo do Estado com sucessivas violações de direitos.

“O governo do Tocantins tem violado os direitos das comunidades quilombolas do Jalapão assim como fizeram no processo de implantação do Parque. Eles estão vendendo os territórios quilombolas porque os territórios não estão demarcados. Só Deus sabe o futuro que nos espera se esse projeto for adiante”, denunciou Joaquim Neto Almeida, presidente da Ascolombolas Rios.

Maria Aparecida Sousa ressaltou a falta de vontade política de sucessivos governadores do Tocantins em assegurar à população quilombola o acesso pleno aos seus territórios. O Estado não possui nenhuma comunidade com território totalmente demarcado.

“A gente sabe o quanto isso será prejudicial para as comunidades. Se o Estado quiser regularizar os territórios quilombolas, ele pode regularizar os territórios. A exploração do turismo é uma exploração violenta que não respeita os quilombolas que ali já estão. Nós somos contra a privatização do Jalapão. Nós queremos os nossos territórios titulados não só do Jalapão, mas dos 38 quilombos do Tocantins. Não vamos calar! Vidas quilombolas importam.” enfatizou Sousa que é coordenadora executiva da COEQTO e da CONAQ.

A maneira como o processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão tem sido conduzida causa medo no povo quilombola local.

Como eu vou ter dúvida de um projeto que eu não conheço. deixaram um livro aqui de 500 páginas eu ainda não li e não sei se dou conta, está aqui na associação, os comunitários vêm e olham assustados. O Governo pegou o projeto da concessão atropelando todas e todas. Eu sinto medo como liderança”, ressaltou Railane Ribeiro, presidente da associação do quilombo Mumbuca.

Como desdobramento da Audiência pública a deputada Vivi Reis elencou os seguintes encaminhamentos:

  • Denunciar as falsas consultas divulgadas pelo Governo do Tocantins;
  • Exigir que se cumpra os protocolos de consulta às comunidades quilombolas do Jalapão;
  • O PSOL vai entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) contra o Governo do Tocantins;
  • Realizar uma reunião com o BNDES;
  • Criar uma comitiva de parlamentares e líderes locais para dialogar com o Governo do Tocantins.

Além das lideranças quilombolas dos territórios do Jalapão, a coordenadora executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), também foram ouvidos representantes da Universidade Federal do Tocantins (UFT, do Ministério Público Federal (MPF/TO) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)

Link da Audiência pública disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=NcaBKldRnPA&list=TLGGNeK6tPAC980yNDExMjAyMQ

Convidados:

  • Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, Coordenadora Executiva da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ);
  • Joaquim Neto Almeida de Souza, Presidente da Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão (Ascolombolas Rios);
  • Osirene Francisca de Sousa, Representante do quilombo Povoado do Prata;
  • Jussara Tavares da Silva, Presidente da Associação Quilombolas Carrapato, Mata, Formiga e Ambrósio;
  • Railane Ribeiro, Presidente da Associação de Moradores do Povoado Mumbuca;
  • Rogério Srône Xerente, Assessor jurídico da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB);
  • João Aparecido Bazzoli, Coordenador do Laboratório de Cidades da Universidade Federal do Tocantins (Labcidades/UFT);
  • Ana Lúcia Pereira, Membro do Grupo de Extensão e Pesquisa “Igualdade Étnico-Racial e Educação” da Universidade Federal do Tocantins (IERE/UFT); e
  • Álvaro Lotufo Manzano, Procurador do Ministério Público Federal no Tocantins (MPF/TO).

Jalapão: MPF determina que Governo do Tocantins realize Consulta Prévia nos moldes do Protocolo de Consulta elaborado pelos quilombolas

COEQTO protocolou o documento na manhã desta quarta-feira, 10. O Protocolo de Consulta Prévia foi elaborado junto às lideranças quilombolas do Jalapão entre os dias 05 e 08 de novembro com base na Convenção 169 da OIT.

O Ministério Público Federal (MPF) deliberou na tarde desta quarta-feira, 10, que o Governo do Tocantins realize Consulta Prévia junto aos quilombos do Jalapão. A decisão foi tomada após a A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) protocolar na manhã de hoje o Protocolo de Consulta elaborado pelas lideranças quilombolas.

Acesse aqui a deliberação do MPF

O Documento elaborado entre os dias 05 e 08 deste mês é um instrumento que visa garantir a efetiva participação da população quilombola afetada pela atual proposta de concessão do Parque Estadual do Jalapão. Apesar de o processo estar avançado, o Governo do Tocantins nunca realizou Consulta Livre Prévia e informada, junto à população impactada pela concessão.

A COEQTO, em ação conjunta com as lideranças, já denunciaram arbitrariedade do Governo estadual ao conduzir o processo de maneira unilateral. Outra preocupação já evidenciada são as problemáticas relacionadas ao texto da Lei nº 3.816 de 25 de agosto de 2021, aprovada pela Assembleia Legislativa que desconsidera os impactos à população quilombola. Junto a isso, alia-se o texto do estudo de viabilidade da concessão, elaborado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) que prevê: 

“Anexo I. 5.1.3. A ÁREA DA CONCESSÃO poderá ser expandida, de modo a abranger novas áreas do PARQUE  que  permitam  uso  público  e  não  prejudiquem  POVOS  E  COMUNIDADES TRADICIONAIS,  mediante  pedido  formal  da  CONCESSIONÁRIA,  do  qual  deverá constar demonstração das atividades que se pretende desenvolver, SERVIÇOS que se pretende  prestar,  sua  inequívoca  aderência  às  normas  e  restrições  estabelecidas  no PLANO  DE  MANEJO  vigente  e  a  inequívoca  ausência  de  prejuízo  aos  POVOS  E COMUNIDADES  TRADICIONAIS, sempre observada  a  manutenção  do  equilíbrio econômico-financeiro.”

A possibilidade de expansão das áreas por ora concedidas acende um alerta para a segurança dos territórios quilombolas. “É uma tentativa de enganar o povo. Eles vão apresentar uma área no primeiro momento, para conseguir aprovação, e depois vão expandir para dentro das áreas quilombolas onde estão os atrativos que lucram mais”, avalia o assessor de projetos da COEQTO, Paulo Rogério. Sem conseguir diálogo efetivo com o Governo do Estado, a COEQTO e as lideranças quilombolas do Jalapão têm buscado assegurar os direitos por vias jurídicas, entre as ações, está a elaboração do Protocolo de Consulta. O documento foi construído com assessoria jurídica do advogado Cristian Ribas e técnica, do agrônomo Paulo Rogério, representando a da Alternativa para Pequena Agricultura no Tocantins (APA-TO).

Os encontros presenciais ocorreram com lideranças dos quilombos Prata, Mumbuca, Boa Esperança, Rio Novo e Carrapato, Formiga e Ambrósio, onde foi explanado sobre a atual situação do processo, este cercado por dúvidas ao “atropelar” as etapas da Consulta.

Diante disso, foi construída a Elaboração e Anuência do Protocolo de Consulta sobre a Privatização do Parque Estadual do Jalapão, está assinada por essas lideranças, a fim de atestar à contrariedade  à maneira como o projeto se encaminha, onde não houve diálogo com os quilombos, dado que a proposta de concessão sobrepõe às terras quilombolas.

Acesse aqui o Protocolo de Consulta elaborado pelas comunidades quilombolas do Jalapão

A população quilombola do Jalapão chegou muito antes da instalação do Parque Estadual que, cujo processo de implantação aconteceu de maneira arbitrária e prejudicial aos modos de vida quilombola até a elaboração do plano de manejo do Parque.  “O objetivo da concessão não é para melhorar as condições de vida de quem já está aqui, dos quilombolas, porque não tem regularização”, ressalta o assessor jurídico Cristian Ribas.

A complexidade dos documentos já divulgados sobre a concessão, é uma das prerrogativas pontuadas no Protocolo de Consulta, pois tais documentos inviabilizam os territórios quilombolas na tomada de decisão sobre a concessão do parque.

A COEQTO demanda a demarcação e titulação dos territórios quilombolas do Jalapão, sob a justificativa de que apenas o acesso pleno ao território vai possibilitar a convivência harmônica entre o povo quilombola e quaisquer deliberação do Estado sobre o Parque. “Precisamos garantir a permanência dos quilombolas do Jalapão que preservam essa região há mais de 200 anos”, pontua Maria Aparecida Sousa, coordenadora da COEQTO. 

 Dos critérios expostos no documento elaborado pelos quilombolas estão: a exigência do agendamento prévio da visita, entrega formal do ofício, além do prazo para análise do projeto de concessão. 

Entenda

O governador afastado, Mauro Carlesse (PSL), iniciou o processo de negociação da concessão dos Parques Estaduais do Jalapão, Cantão e Lajeado e o Monumento de árvores fossilizadas do Tocantins, mas nunca houve diálogo com a população afetada. A lei nº 3.816 de 25 de agosto de 2021, que autoriza a concessão, foi aprovada pela Assembleia Legislativa no dia 24 de agosto, que também não abriu diálogo com a população quilombola do Jalapão.

A concessão dos Parques no Tocantins faz parte do programa do BNDES “Adote um Parque”, cuja finalidade é entregar áreas públicas de unidades de conservação para a iniciativa privada. O problema é que muitas dessas áreas são guardadas por povos e comunidades tradicionais cujos modos de vida são ameaçados com a efetivação das concessões, haja vista a ausência de diálogo.

Em 20 de outubro o Superior Tribunal de Justiça determinou o afastamento de Mauro Carlesse (PSL), por seis meses, para investigação de crimes de corrupção, desvio de dinheiro público e obstrução de justiça. Contudo, as ações do processo de concessão continuam, inclusive com o andamento da consulta pública on-line. 

Entretanto, o governador interino, Wanderley Barbosa (sem partido) ainda não conversou com as lideranças quilombolas do Jalapão, embora a mídia local tenha noticiado que ele pretende rever alguns pontos do processo de concessão.

O Jalapão é Quilombola!

Contra a concessão e a favor da demarcação territorial

Imagem de capa: Paulo Rogério (APA-TO), Cristian Ribas (Ass Juridico da COEQTO), Maria Aparecida Sousa (Coordenadora da COEQTO) e Álvaro Manzano (procurador Federal)

Governo do Tocantins viola Direitos dos quilombolas do Jalapão e ignora a realização de Consultas Prévias

Processo de concessão avança e lideranças temem pela segurança de ir e vir nos próprios territórios

A Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) denuncia a arbitrariedade com que o Governo do Tocantins coordena o processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão. Seguindo a política nacional de privatização de bens públicos, o Estado do Tocantins avança no processo de concessão e viola o direito das Comunidades quilombolas de serem consultadas de forma livre prévia e informada, prevista na Convenção 169 da OIT. Audiências públicas sobre a concessão serão realizadas sem tempo hábil para as comunidades avaliarem os documentos do estudo de viabilidade da concessão. 

“É um documento muito técnico e o prazo entre a publicação e a data de realização das audiências é de menos de uma semana. Não tem como as comunidades ler e assimilar todo o conteúdo para que haja debate nas audiências”, avalia o assessor Jurídico da COEQTO, Cristian Ribas.

Entre as linhas do documento do Estudo, a lideranças destacam com preocupação a seguinte colocação: 

Anexo I. 5.1.3.A ÁREA DA CONCESSÃO poderá ser expandida, de modo a abranger novas áreas do PARQUE  que  permitam  uso  público  e  não  prejudiquem  POVOS  E  COMUNIDADES TRADICIONAIS,  mediante  pedido  formal  da  CONCESSIONÁRIA,  do  qual  deverá constar demonstração das atividades que se pretende desenvolver, SERVIÇOS que se pretende  prestar,  sua  inequívoca  aderência  às  normas  e  restrições  estabelecidas  no PLANO  DE  MANEJO  vigente  e  a  inequívoca  ausência  de  prejuízo  aos  POVOS  E COMUNIDADES  TRADICIONAIS, sempre observada  a  manutenção  do  equilíbrio econômico-financeiro.

A possibilidade de expansão das áreas por ora concedidas acende um alerta para a segurança dos territórios quilombolas. “É uma tentativa de enganar o povo. Eles vão apresentar uma área no primeiro momento, para conseguir aprovação, e depois vão expandir para dentro das áreas quilombolas onde estão os atrativos que lucram mais”, avalia o assessor de projetos da COEQTO, Paulo Rogério.

No último dia 14, o Ministério Público Federal emitiu outra liminar sobre o processo de concessão. “O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer seja novamente apreciado o pedido de concessão de tutela antecipada para suspender todo o processo de concessão até que seja determinada a realização de consulta prévia, com protocolo a ser debatido e construído previamente junto com as comunidades envolvidas”, manifestou o procurador Dr. Manzano.

No documento o MPF destaca ainda que as audiências públicas não substituem a Consulta livre, prévia e informada. “Vale dizer, o processo de consulta às comunidades tradicionais não se confunde com a realização de audiências públicas.” ressalta o procurador Federal Leandro Manzano em liminar publicada no último dia 14.

O avanço do processo de concessão sem garantias do direito ao acesso pleno aos territórios para os povos quilombolas é uma ameaça às comunidades tradicionais. “Pelo que já se ouve sobre o documento, vai ser ruim para todas as comunidades”, aponta Joaquim Neto, presidente da ASCOLOMBOLAS Rios, ao se referir ao estudo publicado pelo Governo do Tocantins, no último dia 15.

Caso o encaminhamento do Ministério Público Federal não seja acatado, o movimento quilombola vai realizar protestos solicitando diálogo com o Governo nos termos da Convenção 169 da OIT e a demarcação e titulação dos territórios quilombolas do Jalapão.

Mobilização em Mateiros dia 21/10 – 08h – em frente ao CAT

 Mobilização em Palmas 22/10 – 14h em frente ao palácio

O Jalapão é Quilombola!

Contra a concessão e a favor da demarcação territorial

COEQTO recorre ao MPF para garantir cumprimento da Convenção 169 da OIT

E denuncia descumprimento de medidas sanitárias do Governo em atividades presenciais em quilombos do Jalapão. O não uso de máscaras e aglomerações podem ter influenciado no surgimento de casos de COVID-19 nos quilombos e até ocasionado óbito de quilombola

Nesta sexta-feira, 08, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) recorreu ao Ministério Público Federal (MPF) para solicitar que o órgão verifique as ações arbitrárias do Governo do Estado no âmbito do processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão e Adjacências. Além da ausência de diálogo com os quilombos, atividades presenciais com comitivas do Governo em meio a pandemia de COVID-19, preocupam a COEQTO.

A COEQTO acredita que a presença das comitivas no Governo e o incentivo da presença de pessoas externas nos territórios quilombolas possam ter contribuído para com o surgimento de novos casos de COVID-19 nos territórios. No No último dia 02 de outubro, o quilombola Maurício Ribeiro da Silva, conhecido como Maurício do Mumbuca, foi vítima fatal da COVID-19, cerca de duas semanas após a presença da Comitiva do Governo no quilombo Mumbuca, sem o cumprimento dos protocolos sanitários de proteção, recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) .

Além disso, o Governo do Estado divulgou também nesta sexta-feira, um cronograma de audiência pública que inviabiliza a participação dos quilombolas nos dois espaços dado o curto prazo entre a realização das mesmas.

“a publicação supramencionada aponta que os documentos serão divulgados em dia 15/10/2021, onde será realizada uma consulta online até o dia 15 de novembro de 2021, foi anunciado também que serão realizadas as seguintes audiências públicas:   Audiência Pública em Mateiros – TO dia 21/10/2021 e Audiência Pública em Palmas – TO dia 22/10/2021. Importante frisar que o prazo de 5 dias é um período diminuto para análise dos documentos por parte da sociedade interessada, sobretudo considerando as comunidades quilombolas da região, com profundas dificuldades de acesso a internet e locomoção, além das demais limitações de sanitárias, impostas pelo contexto da pandemia, vide os recentes casos de contaminação de covid-19.” justifica, a COEQTO na solicitação ao MPF.

A organização ressalta que a maneira como o processo tem sido conduzido fere os interesses da coletividade como atividade fim, regido pelos princípios da administração pública. “Se faz necessário que o MPF apresente uma recomendação, a partir das orientações da OMS, e demais autoridades sanitárias ao Governo do Tocantins, a fim de que as medidas sanitárias, tais como o uso de máscara, sejam respeitadas por parte de servidores públicos que adentrarem em comunidades tradicionais”, exige.

Em Carta Aberta publicada em meados de setembro, a COEQTO já denunciava a arbitrariedade do Governo do Tocantins, no processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão, sem diálogo com os quilombos impactados. Conforme exigido na Carta, a COEQTO reitera o indispensável diálogo com os quilombos do Jalapão e a urgência de demarcação e titulação dos referidos territórios.

Confira o documento apresento ao MPF

IV Convocatória de Projetos 2021 – Fundo Casa Socioambiental

Programa “Casa Fortalecendo Comunidades”

Chamada de Projetos para Apoio às Comunidades Quilombolas no Enfrentamento dos Impactos Causados Pela Covid-19

Esta Chamada de Projetos destina-se a apoiar organizações, grupos e coletivos de pessoas negras e quilombolas para que possam implementar iniciativas que contribuam com a recuperação e sustentabilidade econômica, a promoção da soberania e segurança alimentar, com o fortalecimento da resiliência comunitária e a defesa dos direitos nas comunidades.

1. Introdução

A pandemia de COVID-19, que vem assolando a humanidade desde o início de 2020, tem provocado impactos negativos nas sociedades e povos do mundo todo. As consequências do isolamento social e a paralisação da economia tem sido responsáveis por impactos sociais e econômicos, afetando o trabalho, a renda, a cultura, entre outros setores. 

No Brasil, a pandemia agravou um quadro de insegurança socioeconômica já bastante comprometido pelo contexto político dos últimos anos, marcados por nítidos retrocessos nas políticas públicas voltadas aos trabalhadores e às minorias,. As questões fundiárias, a insegurança alimentar e a violência se destacam como os maiores problemas enfrentados pelas populações mais pobres, periféricas, negras e as populações tradicionais (no campo e na cidade).

Desta forma, esta Chamada de Projetos tem como objetivo apoiar os grupos e comunidades para que possam implementar soluções locais para o enfrentamento da pandemia, através de iniciativas que promovam a segurança e a soberania alimentar das comunidades ou que sejam capazes de garantir sua recuperação e sustentabilidade econômica, tendo como tema e eixo transversais a defesa de seus direitos.

2. Aliança entre Fundos – Iniciativa inédita e inovadora

Esta Chamada de Projetos integra a Aliança entre Fundos, surgida a partir da mobilização comunitária pela justiça racial, social e ambiental, como forma de apoiar os grupos que seguem enfrentando os maiores desafios relacionados à pandemia. Por isso, tem como objetivo também contribuir para aumentar sua resiliência frente a tais impactos, propondo um novo modo de atuação no ecossistema da filantropia no Brasil, a chamada filantropia colaborativa para a justiça social.

Composta pelo Fundo Baobá para Equidade RacialFundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental, a Aliança entre Fundos tem como meta promover maior aporte de recursos diretos para os povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da covid-19.

Todos os Fundos que integram a Aliança realizarão seus próprios editais, cabendo a cada um deles a disponibilização das informações pertinentes ao processo. Consulte o site de cada Fundo para saber mais sobre seus editais.

3.  Fundo Casa – Fortalecendo comunidades no enfrentamento dos impactos causados pela covid-19

Desde 2020, o Fundo Casa tem apoiado as comunidades locais e tradicionais para que ampliem suas possibilidades de fortalecer a resiliência no enfrentamento da covid-19.

No primeiro momento, foram ações emergenciais e apoios humanitários. Entretanto, com a falta de controle da pandemia e dada a perspectiva de que seus impactos deverão permanecer por um período ainda indeterminado, o Fundo Casa iniciou, em 2021, ações que visam contribuir com a resiliência dos grupos a médio prazo. 

Na I Convocatória de Projetos em apoio aos grupos de base no enfrentamento à covid, em 2021, recebemos mais de 500 propostas, um demonstrativo da enorme demanda de grupos que seguem sem apoios para dar conta de enfrentar esse momento ímpar da nossa história recente. Das propostas recebidas, 97 são oriundas de comunidades quilombolas. 

Com o objetivo de prosseguir na estratégia de apoiar os territórios e povos mais vulneráveis aos impactos da covid, o Fundo Casa definiu como foco prioritário desta chamada as comunidades quilombolas localizadas nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

O Fundo Casa irá apoiar ações para estimular, construir e/ou desenvolver a resiliência dos grupos, tendo como eixos transversais as ações de fortalecimento das organizações que atuam na defesa de direitos, dando a elas a oportunidade de enfrentar os impactos causados pela pandemia e seguir desenvolvendo os trabalhos em seus próprios territórios. Isso se dará através dos seguintes recortes específicos:

A recuperação da renda dos grupos que atuam com economia solidária e negócios coletivos que contribuam com sua sustentabilidade econômica e, ao mesmo tempo, fomentem estratégias de resiliência comunitária e uso de novas tecnologias;

Ações e metodologias para o fortalecimento da soberania alimentar dos grupos e comunidades.

4. Chamada de Projetos

A – Territórios de abrangência – todos os Estados das Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

B – Públicos Prioritários – Comunidades e Grupos Quilombolas impactados pela covid (na cidade/campo e florestas).

C – Valor – O valor disponível para a Chamada é de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) e serão apoiados até 33 projetos de até R$ 30.000,00 (trinta mil reais) cada.

D – Critérios e Elegibilidade

Organizações sem fins lucrativos;

Associações locais e Grupos de Comunidades tradicionais quilombolas, com orçamento anual de até R$ 150.000,00;

Organizações e redes quilombolas trabalhando em colaboração para enfrentar os impactos socioeconômicos e ambientais do coronavírus em comunidades e grupos vulneráveis.

Organizações que não possuam CNPJ também são elegíveis e podem enviar projetos nesta Chamada. Veja as orientações sobre organização parceira no Aplicativo ou Formulário de Inscrição.

E – Critérios de Prioridade

Serão selecionados, prioritariamente, projetos de organizações que não tenham outros projetos em execução com o Fundo Casa;

Será levado em consideração o grau de vulnerabilidade dos territórios frente à covid;

Organizações estratégicas nos territórios;

Cada organização poderá apresentar somente um projeto; elegendo apenas uma das linhas temáticas oferecidas;

Gênero – projetos que contemplem a efetiva participação das mulheres, tanto na execução das atividades como na composição em cargos de tomadas de decisão nas organizações, e ainda em ações de saúde e autocuidado para este público específico, além de ações que combatam a violência contra as mulheres; 

Em função da pandemia, projetos que contenham oficinas, encontros, ações de campo e atividades que prevejam aglomerações em locais fechados precisam apresentar protocolos de medidas de prevenção à covid (como compra de equipamentos, treinamentos, etc.), considerando todas as atividades propostas, a fim de garantir a segurança de todas as pessoas envolvidas. (Veja o Anexo 3– Sugestão de Protocolos de Prevenção).

F – Linhas temáticas prioritárias – Confira, abaixo, as linhas temáticas e uma lista com sugestões de ações como referência de apoio:

LINHA 1 – Fortalecer ações para a soberania e segurança alimentar dos grupos de base, tais como tradições culturais na produção de alimentos, projetos com valores agroecológicos e solidários e também aqueles com sistemas agroflorestais, com atenção a:

Reforçar as tradições culturais na produção de alimentos em geral das comunidades;

Fortalecer projetos que se baseiam nos valores agroecológicos, solidários e autonomia;

Soberania alimentar e políticas públicas: garantir o direito básico à alimentação;

Agricultura de subsistência no campo e na cidade;

Outros eixos e tecnologias sociais que atendam ao objetivo da Linha 1.

LINHA 2 – Possibilitar a recuperação do impacto socioeconômico:

Geração de trabalho e renda em atividades locais sustentáveis;

Soluções colaborativas para a economia local;

Soluções criativas para o empreendedorismo local e solidário;

Garantia de renda: fortalecimento socioeconômico através da produção de alimentos;

Iniciativas de comunicação comunitária e uso de tecnologias com envolvimento de jovens;

Novos arranjos de produtores e consumidores no âmbito da soberania alimentar e de geração de renda, bem como a conexão campo-cidade;

Outros eixos e tecnologias sociais que atendam ao objetivo da Linha 2.

G – Período de Recebimento das Propostas – de 09/09/2021 a 09/10/2021.

H – Divulgação das Propostas Selecionadas – Até 10/12, no site do Fundo Casa. Os selecionados serão comunicados por e-mail.

I – Período de Implementação do Projeto das Propostas Aprovadas – De janeiro a dezembro de 2022.

J – Oficinas de Fortalecimento de Capacidades – Todos os grupos selecionados deverão participar das Oficinas de Fortalecimento de Capacidades (virtual, pela plataforma Zoom) em datas que serão previamente informadas pelo Fundo Casa;

K – Intercâmbios e troca de experiências – As organizações, grupos e coletivos selecionados deverão participar de, no mínimo, 70% (setenta por cento) das atividades de trocas de experiências e aprendizados com donatários selecionados pelo Fundo Casa Socioambiental, Fundo Baobá e Fundo Brasil de Direitos Humanos, no âmbito da iniciativa conjunta Aliança entre Fundos.

L – Documentação necessária da organização que deve ser enviada juntamente com o projeto:

  • Última ata de eleição vigente da organização;
  • Estatuto da organização;
  • CNPJ;
  • Certidão Negativa de Débitos do FGTS;
  • Certidão Negativa de Débitos da Receita Federal;
  • Cópia do Extrato Bancário.

M – Impostos e outros

Organizações, grupos e coletivos selecionados são responsáveis pelo pagamento de todos os tributos obrigatórios – quer seja ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos) e/ou outros impostos obrigatórios.

N – Como enviar sua proposta

O Fundo Casa desenvolveu um Aplicativo (disponível apenas para Windows) com intuito de facilitar o processo de inscrição dos projetos. Utilize o Aplicativo para enviar seu projeto: ele é mais rápido e ajuda a evitar equívocos. Baixe, instale, construa seu projeto nele e envie apenas quando estiver finalizado

Utilize o Manual do Aplicativo (Anexo 4) para tirar todas as suas dúvidas e siga os passos indicados para concluir a inscrição do projeto.

Clique aqui para baixar o Aplicativo

Caso não seja possível utilizar o Aplicativo, o projeto também pode ser inscrito por meio do Formulário de Inscrição (Word). Após finalizar seu projeto, envie o formulário (Anexo 1 e Anexo 2),  para : quilombola@casa.org.br

Se ainda houver dúvidas, envie e-mail para quilombola@casa.org.br

Anexos da Chamada – Clique para baixar os arquivos

Anexo 1 – Formulário de Inscrição Word

Anexo 2 – Planilha Orçamentária

Anexo 3 – Sugestão de Protocolos de Prevenção à covid

Anexo 4 – Manual do Aplicativo de envio de Projetos

Dúvidas frequentes

1) O que é Organização Parceira? 
Organização Parceira é a instituição SEM FINS LUCRATIVOS que cede sua estrutura legal para os grupos e movimentos não formalizados, aqueles que não possuem personalidade jurídica. O projeto e as informações da proposta devem ser em nome do grupo proponente. A Organização Parceira enviará os documentos para contratação do projeto, assim como será responsável pelo recebimento do recurso (em conta bancária institucional) e prestação de contas. Dessa maneira, o item do formulário “Organização Parceira” só deve ser preenchido nos casos em que a organização proponente não possua CNPJ.

2) Somos a organização proponente, temos CNPJ, mas está desregularizada. Podemos enviar proposta para esta Chamada, com organização parceira?
Sim, sugerimos que encontre uma organização parceira pra o projeto e cogite a regularização institucional, usando até 10% do valor total do orçamento do projeto para a regularização. Também recomendamos sempre verificar a situação da conta bancária, que deverá estar ativa/regular.

3) Envio de documentos – Os documentos enviados podem ser apenas cópias digitais?
Sim, os documentos solicitados devem ser cópias digitais, tanto para inscrições via aplicativo quanto para inscrições via formulário.

4) Organizações com projetos em execução no Fundo Casa podem encaminhar propostas para esta chamada? 
Preferencialmente, não. Serão selecionados, prioritariamente, projetos de organizações que não tenham projetos em execução com o Fundo Casa.

5) É preciso uma conta bancária Jurídica para receber o recurso? 
Sim, é necessária uma conta bancária pessoa jurídica para receber os recursos do projeto. A conta bancária deve ser no nome da organização com o CNPJ que irá receber a doação. Contas pessoais não serão aceitas. Se a organização não tem personalidade jurídica, as informações bancárias apresentadas podem ser as da Organização Parceira (a organização que receberá os recursos).

6) Se a organização proponente possui CNPJ pode indicar uma organização parceira para receber o recurso? 
Não, organização que possui CNPJ deverá indicar uma conta institucional própria.

7) Grupo está regularizando a documentação. Pode enviar depois da seleção?
Se o grupo for indicado para apoio deverá enviar todos os documentos solicitados para poder receber o apoio.

8) Poderá participar dessa chamada o grupo que tem pendências em prestação de contas com o Fundo Casa?
Grupos com pendência em prestação de contas não serão aceitos nesta Chamada.

9) Uma mesma Organização Parceira poderá ser parceira de até quantas organizações proponentes?
Poderá ser parceira de até duas proponentes.

10) Na planilha orçamentária quais despesas serão custeadas, existe algum modelo?
A seleção dos tipos de despesas é feita pela organização proponente, devendo estar alinhada com os critérios da Linha Temática que o grupo escolher atuar. É parte da coerência na apresentação da proposta a relação entre objetivos específicos / atividades / custos.

11) Uma organização com CNPJ próprio, que inscreve um projeto poderá servir de Organização Parceira para outro grupo sem CNPJ?
Sim. Uma mesma organização poderá ser proponente de um (1) projeto próprio e Parceira para até um (1) outro grupo sem Pessoa Jurídica.

Fundo Baobá investe R$ 1.050 milhão em iniciativas quilombolas

Aporte será dado a 35 organizações pelo edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça, parceria entre o Fundo Baobá e a Conaq

O Fundo Baobá para Equidade Racial em parceria com a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) lançam o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça. O objetivo do  edital é apoiar iniciativas de organizações quilombolas para promover a sustentabilidade econômica nas comunidades, a geração de renda, promover a soberania e a segurança alimentar, além de defender os direitos quilombolas nas comunidades. 

Fundo Baobá, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental que, juntos, constituem a Aliança entre Fundos, atuam em prol da justiça racial, justiça social e justiça ambiental. As ações da Aliança são financiadas pela Fundação Interamericana (IAF).  Os três, com editais independentes, pretendem contribuir na redução dos impactos que as crises sanitária e econômica vêm ocasionando nos povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19.

De acordo com a Conaq e o IBGE,  o Brasil conta com cerca de 6 mil comunidades quilombolas. Dessas, apenas 2.819 já foram certificadas, estando 1.727 localizadas no Nordeste, 450 no Sudeste, 300 no Norte, 191 no Sul e 151 no Centro-Oeste.. Mais de 70% das comunidades quilombolas certificadas, que têm direito à terra coletiva, estão em quatro estados: Maranhão, Minas Gerais, Bahia e Pará.   Segundo a Fundação Cultural Palmares, responsável pela emissão das certidões para as comunidades quilombolas e inclusão das mesmas em um cadastro geral, 3.475 comunidades quilombolas foram reconhecidas, porém ainda aguardam certificação (2196 no Nordeste, 547 no Sudeste, 369 no Norte, 193 no Sul e 169 no Centro-Oeste). Os quilombolas têm, em sua maioria, a agricultura e a pecuária como principais atividades econômicas. A preservação de sua cultura vem da oralidade ancestral e da resistência que têm exercido ao longo de suas existências. 

“Para nós do Fundo Baobá este edital é um marco. Estamos celebrando 10 anos e será a primeira vez que teremos um edital exclusivo para quilombolas. O edital foi todo desenhado em parceria com a Conaq e se apresenta como uma grande oportunidade para fortalecer as estratégias de ativismo, resistência e resiliência das comunidades quilombolas no contexto da pandemia da covid-19.  Sabemos que as organizações de base comunitária nem sempre conseguem acessar recursos, em especial organizações comunitárias lideradas e constituídas por povos tradicionais, por isso o edital também é uma oportunidade para contribuir no aprimoramento da filantropia para justiça social”, afirmou a diretora de Programa do Fundo Baobá, Fernanda Lopes.  

Entidades e valor do apoio

Apenas organizações  lideradas e constituídas por quilombolas poderão se inscrever.  Essa é a principal premissa do edital. Os recursos financeiros e o apoio técnico irão para a base comunitária.  Serão apoiadas  até 35 (trinta e cinco) iniciativas. Para cada uma caberá um montante de  R$ 30.000 (trinta mil reais), perfazendo R$ 1.050.000 (Um milhão e cinquenta mil reais). As organizações selecionadas também irão receber investimentos indiretos por meio de assessoria e apoio técnico visando seu fortalecimento institucional. O edital completo poderá ser lido neste link.

Inscrições

As inscrições para o edital Quilombolas em Defesa: Vidas, Direitos e Justiça começam no dia 23 de setembro e vão até as 23h59 do dia 25 de outubro (horário de Brasília).  As demais fases do processo seletivo estão descritas no edital. 

Para se inscrever basta acessar o site oficial do edital.

Eixos Temáticos

Cada organização deve apresentar apenas uma proposta que verse sobre um dos eixos temáticos propostos: 

  1. Recuperação e sustentabilidade econômica nas comunidades quilombolas; 
  2. Promoção da soberania e segurança alimentar nas comunidades quilombolas; 
  3. Resiliência comunitária e defesa dos direitos quilombolas. 

Sobre o Fundo Baobá:

Criado em 2011, o Fundo Baobá para Equidade Racial é o primeiro e único fundo dedicado, exclusivamente, para a promoção da equidade racial para a população negra no Brasil. Orientado pelos princípios de ética, transparência e gestão, mobiliza recursos financeiros e humanos, dentro e fora do país, e investe em iniciativas da sociedade civil negra para o enfrentamento ao racismo e promoção da justiça social. 

Sobre a Conaq:

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) foi criada em 1996 após o I Encontro Nacional de Quilombos. É  uma organização de âmbito nacional, sem fins lucrativos, com objetivo de representar e defender os direitos dos seis mil quilombos nos 26 estados da federação. A pauta principal da CONAQ é a defesa dos territórios, da cultura e do modo de vida quilombola frente a quaisquer fatos ou atividades que venham provocar desequilíbrios. As ameaças e violações dos direitos sociais, econômicos, culturais e ambientais têm colocado em risco a sobrevivência dos quilombos e resultado na morte de suas lideranças. 

Sobre a Aliança Entre Fundos:

Criada em 2021, a partir da mobilização comunitária pela justiça racial, social e ambiental, a Aliança Entre Fundos propõe um novo modo de atuação no ecossistema da filantropia no Brasil, a filantropia colaborativa para a justiça social. Composta pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental, a Aliança entre Fundos tem como meta promover maior aporte de recursos diretos para os povos indígenas, comunidades quilombolas e outros povos tradicionais mais vulnerabilizados pela pandemia da COVID-19.

Lideranças quilombolas do Jalapão denunciam violações de direitos no processo de concessão do Parque por parte do Governo do Tocantins

Comunidades tradicionais não são ouvidas e denunciam pressão do Estado

Em carta aberta à sociedade, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO) e as entidades que a subscrevem, denunciam violações no processo de concessão do Parque Estadual do Jalapão. As lideranças têm recebido pressões do Governo do Estado para participarem de reuniões marcadas com prazos exíguos, sem comunicados oficiais às associações que, ao questionarem a inviabilidade de participação ampla da comunidade, os representantes do Estado começam a fazer ligações para pessoas isoladas a fim de garantir quórum nas reuniões.

Segundo o presidente da ASCOLOMBOLAS Rios, Joaquim Neto, a situação de desrespeito às comunidades tradicionais do Jalapão se repete como aconteceu no processo de instalação do Parque. “Assim como a gente não teve direito à voz no processo de criação do Parque, agora o processo de concessão está sendo pior”, alerta.

À medida que o Estado avança no processo de concessão dos Parques, os povos impactados são cada vez mais relegados dos espaços de discussões. “Não nos procurou no processo de criação da lei dessa concessão dos Parques. Quando nos é procurado para dar a nossa opinião, eles vêm com um cronograma de reunião em que não dá tempo para nós mobilizar todo o nosso pessoal e também não dá tempo para a gente se articular para que nós tenhamos um acompanhamento de técnicos da área jurídica que defendam os quilombolas ou até do Ministério Público que às vezes é interessante participar”, relata Joaquim Neto.

No próximo dia 16 o Governo do Tocantins por meio da ADETUC vai ao Jalapão com o BNDES para realizar uma reunião em que as associações foram comunicadas com dois (2) dias de antecedência. 

“Estamos lançando uma carta em que manifesta toda a nossa preocupação de indiferença do Estado em querer que a gente reúna em tempo muito ligeiro. Estamos muito preocupados e aflitos com as ações que o Estado está tendo conosco, nos impondo reuniões em datas não programadas e sem adiantamento da pauta. Queremos que nos envie o comunicado formalmente e que a gente aceite formalmente para que a gente não seja prejudicado”, ressalta, a liderança.

CARTA ABERTA À SOCIEDADE TOCANTINENSE

Palmas, 14 de setembro de 2021. 

As comunidades quilombolas do Jalapão, suas associações e as entidades de apoio subscritas abaixo, vêm expressar a imensa preocupação com a ausência de consulta e diálogo com as comunidades quilombolas e tradicionais durante o processo de aprovação e sanção da legislação que autoriza a concessão de Parques estaduais, entre eles o Jalapão, à iniciativa privada.

A vantagens financeiras da concessão não podem suplantar o bem-viver dos povos e comunidades que ali fizeram morada nos tempos de escravidão legal no Brasil. Os quilombos se formaram na Região do Jalapão bem antes da instalação do Parque Estadual que sobrepôs territórios quilombolas no início dos anos 2.000. Ao invés de demarcar os territórios e titular, o Estado do Tocantins desde a implantação do Parque, tem agido em prol de inviabilizar as vivências dos povos tradicionais no Jalapão. É preciso demarcar os territórios em respeito aos povos que convivem harmoniosamente com o Jalapão desde o final do século XIX. Os povos tradicionais não são considerados entre os índices de desenvolvimento econômico deste Estado e nisso, consiste a luta pelo acesso pleno à terra e ao território e contra políticas excludentes.

As lideranças denunciam que as comunidades estão sendo convocadas pelo Governo do Estado do Tocantins para reuniões, definidas de forma unilateral e reiteradamente, não concedendo às comunidades nem mesmo o direito de opinarem sobre datas e horários. 

Tal situação viola frontalmente o artigo 6º, 1 e 2 da Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e que impõe ao Estado o dever de consulta prévia, livre e informada às comunidades tradicionais sobre as medidas administrativas e legislativas suscetíveis de afetá-las diretamente, bem como assegurando sua participação na adoção de decisões. 

Assim, considerando o delicado contexto atual e com o objetivo de assegurar os direitos das comunidades, exigimos que a partir de agora, qualquer reunião das

secretarias ou outro órgão do Estado, deverão ser solicitadas junto às associações através de ofícios encaminhados em nome de seus presidentes, com o prazo mínimo de 20 (vinte) dias de antecedência para assegurar a ampla participação das comunidades impactadas. Na ocasião, também deverão apresentar as pautas a serem discutidas. 

Solicitamos ainda que o Governo do Tocantins apresente uma agenda de discussões e inicie o debate para assegurar a demarcação e titulação dos 38 territórios quilombolas do Estado. Que o Estado apresenta o estudo sobre os impactos da demarcação territorial, por ele solicitado, para a tramitação e aprovação do texto da Lei de demarcação territorial encaminhado ao Governo pelo Ministério Público Federal, há  mais de cinco (5) anos.

Ademais, com relação a solicitação de comunicados prévios das reuniões no âmbito da concessão do Parque Estadual do Jalapão, a reivindicação se faz necessária para evitar que as associações e comunidades continuem sendo surpreendidas com reuniões repentinas, sem comunicado oficial prévio, sem adiantamento de pauta, sem oferecer tempo hábil para as associações mobilizarem suas comunidades e garantir ampla participação de todos, como está acontecendo nesse exato momento, onde pessoas da comunidade estão sendo convidadas de maneira individual para reunião com ADETUC e BNDES e não se sabe para qual pauta.

Vamos falar de demarcação territorial?

Em defesa da vida, dos territórios e do Jalapão!

Assinam esta carta

:

Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (COEQTO)

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)

Associação Quilombolas Carrapato, Mata, Formiga e Ambrósio – Presidente: Jussara Tavares Da Silva

Associação das Comunidades Quilombolas das Margens do Rio Novo, Rio Preto e Riachão (ASCOLOMBOLAS RIOS) – Presidente: Joaquim Neto Almeida de Souza

Associação Comunitária dos artesãos e pequenos produtores de Mateiros – Presidenta: Laudeci Ribeiro de Sousa Monteiro

Associação Comunitária dos Extrativistas Artesãos e pequenos produtores da Comunidade Quilombola do Prata – Presidente: Aulerinda dos Passos Ribeiro

Alternativa para Pequena Agricultura no Estado do Tocantins (Apa-to)

Articulação Tocantinense de Agroecologia  (ATA)

Conselho Indigenista Missionário – Regional Goiás/Tocantins (CIMI)

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB)

Comissão da Pastoral da Terra (CPT)

Terra de Direitos

Central do Cerrado

Coalizão Negra Por Direitos

Articulação Rosalino e movimento Geraizeiro

Conselho Nacional das populações extrativistas – CNS Regional Tocantins

Associação das Mulheres Trabalhadoras rurais do Bico do Papagaio (ASMUBIP)

Centro de Trabalho Indigenista

Campanha Nacional em Defesa Cerrado

Grupo Carta de Belém

Angá – Associação para a gestão socioambiental do Triângulo Mineiro

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)

Associação Agroecológica Tijupa

Jovem preta, LGBT e Quilombola: conheça a história de Débora Gomes Lima

Por Geanini Hackbardt

“Eu era mulher preta, no meio de um monte de cara branco. Então fui desacreditada”. Assim Débora Gomes Lima descreve a experiência hostil que vivenciou na universidade, quando cursava Química. Mulher preta, LGBT e Quilombola, a jovem de 24 anos, de Aragominas-TO, se deparou com inúmeras formas de opressão ao buscar a formação acadêmica fora da comunidade onde nasceu.

Os ancestrais do Quilombo Pé do Morro foram guiados pela matriarca Maria Velha nos 50, para uma terra distante, para onde levaram suas rezas, benditos, romarias, penitências, garrafadas e outros conhecimentos medicinais. Dona Antônia de Barros, chamada de Velha por todos, recebeu a terra em “visão”. A moça conta que lá não tinha ninguém, era mata fechada, não tinha picada de facão. E Velha dizia sempre que “a passagem por aquela terra seria pouca, porque ela tinha a missão de levá-los até lá e depois seria levada para o seio de Padre Cícero e as entidades que a protegiam”. Assim a comunidade construiu suas igrejas, sua religiosidade sincretizada entre o catolicismo e a matriz africana, fez sua plantação e a cultura própria do território.

Vendo a movimentação das pessoas e os alimentos que elas vendiam na cidade, anos depois, chegaram os grileiros de terra. Débora conta que seu pai e sua mãe eram analfabetos, assim como grande parte dos fundadores do Quilombo. Quando os grileiros chegaram, traziam papéis e representantes do poder público. Através da violência psicológica, de ameaças e coações, conseguiram retirar as famílias do local.

“Ao pezinho do morro, onde é nosso território, tem o cemitério onde estão enterrados nossos ancestrais. Também tem várias igrejas, espaços para rezas e diversas manifestações culturais. E esse lugar ainda está lá. Algumas pessoas ainda moram lá, dois mais velhos que resistem. Até então ninguém mexe com eles não, mas também eles não podem fazer nada na terra, até ser titulada. Eles ficam lá mais por uma questão de simbologia mesmo, da resistência”, recorda saudosa.

Atualmente, 200 famílias resistem na cidade de Aragominas, a dois quilômetros da terra. “Juntando todo mundo, neto, filho, sobrinho, são 1.200 pessoas”, que vivem num espaço urbano, na esperança de ter o reconhecimento da área, que após passar por seis etapas, aguarda a assinatura do presidente. Mas Débora não tem ilusões em relação ao “desgoverno” de Bolsonaro: “Antes, nas gestões anteriores, até que tinha algo a nosso favor, a gente tinha um pouco mais de fôlego na luta. Agora piorou tudo. A campanha dele mesmo foi em cima de não dar um centímetro de terra para indígena, para quilombola”.

Débora é uma das lideranças jovens da comunidade, e se divide entre os estudos e o aprendizado dos conhecimentos tradicionais da família e de seus anciãos. “Nos foi tirado, da minha geração e da geração antes de mim, o direito de crescer, de cuidar, de pertencer de fato ao território. A gente teve que crescer estando urbana”. A jovem destaca que a escola pública da cidade, apesar lhes receber, não estava preparada pedagogicamente, assim como o sistema de saúde também não estava preparado para receber pessoas quilombolas. “Quando a gente retomar o território, vai ter que começar do zero. Vai ter que montar uma escola quilombola, vai ter que montar uma unidade de saúde quilombola, todas as questões básicas”, planeja.

Atualmente, ela cursa enfermagem no IFTO (Instituto Federal do Tocantins). Foi na universidade que ela começou a se autoafirmar LGBT, ao mesmo tempo que enfrentava o racismo, machismo, lesbofobia e preconceito étnico. Ao se organizar no movimento estudantil, conheceu os direitos que lhes negavam, encontrou referências, pares, e estudou as questões sociais. “A gente teve que ocupar a universidade. Isso foi uma das coisas que mais atrapalhou meu psicológico. Essas situações me fizeram perceber o tanto que a universidade é hostil para quem é quilombola, para quem é preto, para quem é de movimento. Eu percebia situações que os quilombolas passavam na universidade e a gente não conseguia ver aquilo e simplesmente sentar ali e estudar”.

Foi assim que ela afirmou sua sexualidade, diante da família e comunidade, que tem característica muito religiosa e conservadora, mesmo sabendo da atração sexual e afetiva por mulheres desde os 13 ou 14 anos. “Se dentro da cidade grande, onde as pessoas têm (entre aspas) liberdade – uma liberdade limitada porque o Brasil é o quarto país que mais mata LGBTs -, no interior é mais complicado ainda. Você explica, explica e ninguém entende. Eu tentava me esconder para que ninguém me visse e contasse para minha família”.

Quando Débora revelou que era lésbica, as pessoas do Quilombo passaram a enxergá-la de forma diferente, a fazer comentários, e a “fofoca” se espalhou, o que a motivou a parar de participar das atividades do Quilombo. “Eles passaram a não me enxergar da mesma forma, então eu parei de participar. As pessoas marginalizam o corpo LGBT. Já taxam a gente de vagabundo e outras coisas. Acharam que aquela Débora que eles viram crescer não ia ser a mesma Débora”.

Foi o tempo que tonou que as coisas mais “suportáveis”, porque as pessoas perceberam que sua orientação não afetou em nada quem ela era. Apesar da lesbofobia estar escancarada nos olhares, ela compreende que é necessário muito tempo e diálogo para que as pessoas passem a compreendê-la e respeitá-la. “Se pra mim, que sou LGBT, demorou anos para entender, imagina na cabeça deles. Então eu compreendo até um limite, mas não deixo que as pessoas fiquem fazendo galhofa, como minha mãe diz”.

Para outras mulheres e jovens que passam pelas mesmas opressões, ela pede paciência e estudo, mas é necessário sair do armário e se colocar na sociedade por inteiro. “Eu não consigo ser uma mulher preta, lésbica, quilombola e falar sobre só uma parte de mim. Eu conheço pessoas que quiseram arrombar a porta do armário, e entendo, porque a gente se cansa, mas foi traumático, foi adoecedor, foi difícil. A gente tem que ter paciência não para os outros, é pra gente. É pra saúde mental, pro autocuidado. Eu me armei de conhecimento, me armei de sentimento para que, quando as pessoas que eu amo, como minha mãe, minha irmã e a família me perguntassem, eu pudesse responder”, concluiu.

Cerca de 43% das comunidades quilombolas têm problemas relacionados à vacinação contra Covid-19

Release O levantamento inédito “Vacinômetro Quilombola – Retratos da situação da vacinação da Covid-19 nos quilombos” realizado com 445 quilombos em todo o país mostra que 43% dos territórios mapeados apresentam algum problema na vacinação contra Covid-19. São 193 quilombos que relataram dificuldades na vacinação, que resulta em uma média de 15.407 quilombolas sem conseguirem se vacinar. O estudo é realizado pela Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), com apoio da Terra de Direitos e da Ecam Projetos Sociais.

Entre os principais problemas mapeados, estão a dificuldade de vacinação de quilombolas não residentes no território por motivo de trabalho ou atuação política em outras localidades, impedimento de vacinação de maridos, esposas e enteados não quilombolas residentes no território, e dificuldade no planejamento e execução da vacinação. Denúncias relativas ao direcionamento de doses a pessoas não quilombolas e de tentativas de pessoas não quilombolas se vacinarem nos quilombos também constam no levantamento.

“Esse levantamento dá um panorama de como as políticas públicas não chegam àsnas comunidades quilombolas. Mesmo com uma decisão judicial, muitos quilombos ainda enfrentam dificuldades de vacinação, seja pela não titulação de territórios ou pela falta de planejamento e execução das campanhas de vacinação. Também existem conflitos nos municípios e o não aceite de um grupo da sociedade de quilombolas como grupo prioritário”, analisa Kátia Penha, da Conaq.

Dos 445 quilombos consultados, 346 ainda não são titulados e 33 não foram certificados pela Fundação Cultural Palmares. Vale ressaltar que a demarcação de territórios quilombolas no Governo Bolsonaro atingiu o menor patamar da história.

Em decisão proferida em junho deste ano, o Ministro do STF, Edson Fachin, determinou que a União considere quilombolas não residentes no território no plano de vacinação. Entretanto, a decisão contempla apenas quilombolas que não residam no território por motivos acadêmicos ou de saúde. A delimitação de não residentes apenas nessas categorias é a razão, segundo análise dos dados, de problemas identificados em 54 quilombos.

“Existe um rol maior de quilombolas que não residem em seus territórios. São comunidades expulsas de seus territórios, quilombolas que buscam oportunidades de trabalho e outros que estão em mobilização política. O território é aparato central da luta quilombola, mas não pode ser utilizado para negar direitos. Excluir todo um grupo de quilombolas é contraditório à própria decisão do Ministro e enfraquece a identidade quilombola”, defende Vercilene Dias, assessora jurídica da Terra de Direitos e da Conaq.

Amostra de quilombos consultados

445 quilombos mapeados

23 estados

246 municípios

138.230 quilombolas identificados

90.075 quilombolas vacinados só com a primeira dose

32.748 quilombolas vacinados com a segunda dose

15.407 quilombolas não foram vacinados

Situação dos quilombos consultados

193 quilombos apresentaram algum tipo de problema na vacinação (43% dos casos monitorados)

Em 54 quilombos foi relatado que quilombolas não residentes no território enfrentaram dificuldade no acesso à vacinação como grupo prioritário

Em 6 quilombos foi relatada a dificuldade de vacinação de maridos, esposas e enteados não quilombolas residentes no território.

346 dos quilombos consultados ainda não são titulados

33 dos quilombos consultados não foram certificados pela Fundação Cultural Palmares

Problemas identificados:

193 quilombos apresentaram problemas na vacinação

Principais problemas são:

Quilombo não recebeu vacina por não ser certificado pela Fundação Cultural Palmares – 9 casos

Cônjuges e enteados não quilombolas residentes no território não foram vacinados – 6 casos

Dificuldade no planejamento e execução da vacinação –  69 casos

Doses insuficientes – 24 casos

Conflitos no município ou com outras comunidades não quilombolas pela não aceitação de quilombolas como grupo prioritário para a vacinação – 17 casos, em 11 casos foi relatado a tentativa de vacinar não quilombolas ou destinar a vacina reservadas para quilombolas para outros fins

Dificuldades no acesso à vacinação como grupo prioritário de quilombolas residentes fora do território – 54 casos

Recusa individual à vacinação – 54 casos

Imagem de capa: Quilombo Baião-TO_Foto Maryellen Crisostomo